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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Não dá para acreditar

     É sério. O caso - neste caso, um caso, mesmo - aconteceu aqui na bela Floripa. O gerente da agência bancária me segredou e eu vou botar a boca no trombone. Sem dar nome aos bonitões, é lógico. Até porque esse negócio de falar mal de polícia cheira a bala. Dizer em praça pública que um policial é gay é o mesmo que assinar a própria sentença de morte. "Mas sem exageros, meu caro Gile", dirá um comandante amigo meu. Sendo assim, não vou afirmar que o camarada dessa história era da nossa querida coorporação estadual. Faço igual ao lema da bandeira paraibana - Nego. O fato é que um trintão entrou no estabelecimento onde se empresta dinheiro acompanhado de um vintão. O mais velho contou uma conversa sinistra para o gerente: estava sendo sequestrado e precisava sacar uma grana para pagar ao moçoilo que entrara com ele. Na verdade, conforme o policial, mais dois comparsas do seu acompanhante estavam do lado de fora da agência aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Acho até, pelo que apurei, que o gerente quis pagar para poder libertar o cliente, mas o danado do trintão não tinha um realzito na conta. E agora, seu Zé?

     Ah, meu amigo, o funcionário deu uma de bobo e chamou a polícia. Enquanto os fardados não chegavam, o bancário foi entretendo os dois visitantes. Morrendo de medo, confesou-me depois. O cliente policial, visivelmente contrariado e enrrolado, tentava persuadir o gerente a adiantar-lhe uma mixaria. Nada feito. Depois de meia hora, chegou um suado e solitário PM. A pé, o desgraçado. Ora, ora, meus senhores, como é que um cara vem atender uma possível tentativa de sequestro sozinho? E ainda por cima a pé? E não pesava 60kg o desgraçado. O engravatado já estava aflito. Àquelas baixuras, quase todos os funcionários estavam de orelha em pé. Os dois comparsas que vigiavam do lado externo da agência, ao notarem a chegada de um fardado, viraram gás, escafederam. O policial que veio desbaratar o sequestro estava mais perdido do que cachorro quando cai da mudança. Aos poucos, entretanto, foi tomando pé da situação e chamou o gerente numa sala.

     O gerente, então, dirigiu-se ao policial cliente e deu-lhe a solução: "Vamos ligar para sua esposa e pedir que ela venha trazer o dinheiro".
- Não, pe-la-mor-de-deus! - suou o trintão - Não quero que ela saiba de nada.
- Sendo assim, não posso fazer nada - deu uma de Pilatos o bancário.
- Por favor, seu gerente, consegue esse dinheiro para mim?
- Não posso - respondeu sem nenhuma ponta de sensibilidade - O jeito é ligar para sua mulher.

     Quinze minutos depois entra uma senhora enlouquecida. Aos gritos, revela o segredo do marido:
- Safado! Ainda tem coragem de fingir que foi sequestrado?! Vai com um macho para o motél, gasta todo o dinheiro com drogas e depois não tem como pagar o programa?! E depois eu tenho que vir aqui pagar, me sujeitar a uma humilhação dessa?!

     "A cena era constrangedora", atestou o gerente. O policial de serviço, o Stallone de Florianópolis, aliviou para o colega e saiu de fininho. Com o pagamento no bolso, o vintão agradeceu à mulher do cliente do banco e dele, e se foi. Sem um grama de moral, o "sequestrado" saiu sob xingamentos da consorte. Na agência, o pasmo era geral. Dois dias depois, enquanto me contava tudo, o gerente dava risada. Fiquei sem saber se era para rir, chorar, ou ficar sem saber o que fazer. Fiquei sem saber o que fazer. É, paisano, quando eu penso que já vi tudo...


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