Não teve jeito, a República Três Platôs agora tem um interventor. Eu. Isso mesmo, euzinho em carne e osso – ultimamente, mais carne do que osso. Sim, porque já fui mais osso do que carne. Aquele tipo que para se esconder basta ficar de lado. A magreza, no entanto, não era falta de saúde. Usava a bicicleta como transporte – coisa que hoje acho um suicídio quando feito nas ruas das grandes cidades. Nadava, jogava futebol tocava. E antes das peladas ainda tinha – o professor de artes marciais Nelson Arevallo, de Blumenau, pode confirmar – uma hora e meia de socos e pontapés. O futebol ainda pratico, mas se outrora fui ponta esquerda, hoje limito-me à zaga central. Pontapé ainda dou, basta um firuleiro se meter à besta. Como costumo jogar entre colegas na AABB de Floripa, raramente preciso puxar a peixeira para botar um boleiro para correr. Pedalar, entretanto, está fora dos meus planos. O ciático, esse desgraçado amante dos quarentões, não tolera um selim. Minhas bikes estão semi-aposentadas. São como honestidade em político – só de vez em quando. Em se tratando de natação... zero. Uma braçada ou outra. E no verão. Quanto à música, só na República Três Platôs. Um violãozinho, umas nesgas de queijo e salame. Sem crise, sou interventor.
A nomeação foi feita por mim mesmo. Aprendi a técnica com os donos do Brasil. Se o judiciário pode, se o legislativo pode, se o executivo pode, eu também posso. Chamei a mim mesmo num canto, e disse: “a República precisa de você, homem de Deus”. Esses quadrúpedes precisam de regras, de um chicote, de um mandatário. Estabeleci meu salário, como fazem nossos magistrados, estipulei minha exígua carga horária, semelhante aos legisladores, e dei-me ao luxo de fazer o que bem entendo, como o executivo. Pronto, fácil assim virei, da noite para o dia, um interventor. E tratei de mostrar aos bovinos como é que se vive. Um balde de ração por dia para cada um. É o famoso bolsa-ração. Quem não me obedece, companheiro, tem que pastar. Pirata, o manda-chuva dos moradores da República Três Platôs, entendeu bem minha política. Parece até que fizemos um acordo. Não que tenhamos feito, evidentemente. Ele ganha, contudo, bem mais farelo que os demais. Como tenho poder de polícia, posso mandar prender e mandar soltar quem bem entendo, Gerineldo anda de cara amarrada pro meu lado. Acha que estou pegando demais no pé dele e deixando Jipão fazer o que quer. O danado entende que, por se tratar de uma república, todo o sistema é corrupto. Ele que não se meta comigo. Sou capaz de forjar provas contra ele e encerrá-lo num curral até o dia dele ir parar num frigorífico.
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