Ele é solitário; faz-me
lembrar um homem honesto dentro do Congresso Nacional. Com a diferença que o
político sério não consegue fazer nada. O personagem desta crônica, no entanto,
trabalha incansavelmente, alheio ao que acontece no mundo ao redor do dele. Sim,
o cara a quem me refiro tem seu próprio planeta. Mede cerca de oitenta
centímetros quadrados o mundinho do moço. Sua casa, seu mundo. Nada mais lhe
interessa. Metódico, trabalha de hora em hora. Uma da manhã - ele aparece na
varanda da casinha de madeira em que vive e cumpre sua missão. Duas da manhã –
quem está acordado pode testemunhar que o ermitão deu o ar da graça e labutou. E
faz isso durante as vinte e quatro horas do dia, incansável feito um torcedor
do Corinthians. Falando no time paulista, acho que o danado será campeão
brasileiro por saldo de gol. Ao término do campeonato, terá o mesmo número de
pontos de Vasco, São Paulo e Botafogo. Levará o troféu por ter marcado um gol a
mais. Sim, do jeito que o Brasileirão está...
Pontualíssimo; parece um
trem inglês. Eu, particularmente, gosto de mirar a mansão dele e vê-lo saindo
para contribuir com a organização do tempo de quem está passando por ali. Ou de
quem está sentado lendo um livro, fazendo uma panelada de feijão no fogão a
lenha ou simplesmente vendo o mundo passar. Ele tem uma mansão, sim. É pequena, mas é uma mansão. Ou achas que mansão é sinônimo de imensidão? É verde e amarelo o safadinho. Pensei
em chamá-lo de Roberto Carlos, de tão bem que ele canta. O capixaba poderia
pensar que estou querendo dizer que ele só sabe cantar um estilo musical, por
isso deixei para lá. A voz do minúsculo cantor é firme, encorpada. Às vezes ela
me parece um pouco triste. Acredito, porém, que seu estado de espírito não se
abala. É apenas um espelho de quem o observa cantarolar. Não canso de ouvir sua
melodia repetitiva. E sempre que as pilhas dele descarregarem vou trocá-las
para tê-lo cantando de hora em hora. Como é bonito ver o cuco na parede.
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