Começou a chover aqui em
Santa Catarina na segunda à noite. E não parou mais. E as histórias se repetem.
Queda de barreiras em Águas Mornas, alagamento em Blumenau... E por aí vai. Os jornais
aproveitam para vender notícias. É o tipo de matéria fácil de produzir. O repórter
liga para a central de meteorologia e verifica a situação climática. Depois de
uma consulta à internet e outra ligação, dá uma passada em um local da cidade
invadido pela água. Conversa com um, conversa com outro e pronto. Dois neurônios
serão o suficiente para formatar o material. E depois?
Depois é esperar a
chuvarada dar uma trégua e contar que o filho de uma famosa nasceu. Ou que o
jogador de futebol Beltrano está “pegando” fulana. Ou ainda, que a câmara está votando
projetos importantes – como a mudança do nome de uma rua desconhecida para o de
um político que morreu no ano passado. O tempo bom funciona como um narcótico
para a população.
- Finalmente o tempo
melhorou, hem, seu Bartolomeu?
- Finalmente, dona
Maristela. Eu já não aguentava mais tanta água.
- Boa noite, seu
Bartolomeu; preciso chegar a tempo de ver a novela. Quem será que matou Epaminondas?
– É que tem sempre alguém matando alguém nas novelas.
- Até amanhã, dona
Maristela. E vamos torcer para fazer sol, não é?
Saia, paisano, pelas
cidades e veja o descaso do poder público com o meio ambiente. Na última
semana, passando pelo interior de Águas Mornas vi um trator escavando o morro. Parei
e fiquei olhando. Em questão de minutos a vegetação estava revolvida. O riacho
de águas cristalinas recebeu algumas toneladas de terra vermelha e um tubo –
daqueles usado em esgotos. A beleza rural disse adeus e se foi, expulsa pelas garras da máquina. O poder público, preocupado em justificar seus gastos e
produzir outros tantos, não deu as caras. Tem mais? Tem.
O loteamento Frei Damião,
em Palhoça, é o maior bolsão de miséria do Estado. A prefeitura, ocupadíssima
com projetos que trarão dinheiro para o município, não faz nada. Em Floripa a situação não é diferente. Você olha para os morros que ontem foram
cobertos por mata e só vê concreto. E todo mundo entretido. Dança dos famosos,
gol de Ronaldinho Gaúcho e reality show – isso é o que importa.
E depois vem reclamar da
chuva? Depois querem encher meus ouvidos e olhos de desgraça? Falemos sério. Falemos
de uma galinha minha que começou a pôr.
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