Aê, paisanos, a Semana Contestada foi assim:
Hoje iniciei aquela que estou chamando
de Semana Contestada. Depois de um ano que estive aqui - escrevo
agora de Caçador -, tirei estes dias para revisitar alguns locais aonde
estive e conhecer outros que ficaram faltando conhecer na expedição que
fiz em setembro de 2010.
Semana no Contestado ( 19-23/09/11)
Objetivo: busca de informações para dar suporte ao livro que estou
escrevendo sobre o Contestado, a ser lançado em 2012 nos 100 anos do
Contestado.
Saída de Florianópolis: 5h20.
Temperatura: 17º
Chegada em Caçador: 18h10
Temperatura: 17º
Quando saí ainda estava escuro. Em Santo Amaro da Imperatriz começou
uma garoa fina. Na altura de Rancho queimado a cerração cobria a Serra
Geral. Cheguei em Lages às 8h05 e o termômetro indicava 12º. Aviso logo
que desta vez vim de carro. O tempo chuvoso dos últimos meses foram
desestimulante para uma viagem de moto. Passei por Curitibanos por volta
das 9h e segui para Frei Rogério. Fui por uma estrada de terra aberta
pelos tropeiros no século dezenove. Passava das 10h30 quando estacionei
na frente da casa do historiador Pedro Felisbino, em Taquaruçu. Depois
do almoço - feito sempre no capricho pela esposa dele - fomos ao local
onde ficava o antigo reduto, ao pequeno museu do jagunço (mede 48m2) e
subimos até uma campina do outro lado do rio taquaruçu - foi dela que as
forças oficiais atacaram a antiga cidade santa dos caboclos. Ainda deu
tempo de ir até a localidade de Linha Morais, no município de Monte
Carlo. Lá, conheci Alzira Prates, cujo bisavô foi um dos poucos
sobreviventes do massacre de Taquaruçu. Tomaz Palhano, o bisavô da professora, combatera ao lado de José Maria no entrevero do Irani. Às 17h rumei a
Caçador. Fui recebido com um abraço pelo Padre João Casara - reitor do
seminário diocesano.
Algumas fotos do primeiro dia da Semana no Contestado:
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Vestígio do caminho que ligava o antigo reduto de Taquaruçu a Curitibanos |
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Pedro Felisbino em frente ao cemitério usado pelos moradores de Taquaruçu até meados do século passado |
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Túmulo no antigo cemitério |
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Visão que os militares tinham do reduto quando fizeram a matança |
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Parte do reduto está sob o açude |
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Aqui jaz Taquaruçu |
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Casa de caboclo - Taquaruçu |
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Casas de caboclos - Taquaruçu |
Hoje fui a Três Barras e Canoinhas, municípios que não visitei na
expedição do ano passado. Acorde às seis horas sob o efeito sonoro de
Chiquitita, do ABBA. A sonzeira da chuva e da trovoada cessara, quem
atacava de DJ agora era, como em setembro de 2010, o padre Lídio. Saí de
Ccaçador às 7h30 e o termômetro indicava 15º. Bastou sair da cidade que
a chuva recomeçou. Até Calmon ela era uma garoa que variava entre fina e
muito fina. Os trinta quilômetros até a cidade que leva o nome de um
baiano foram rapidamente vencidos porque quase não encontrei carros no
caminho. Sim, Calmon é uma homenagem ao baino que foi ministro da Viação
e Obras Públicas do governo Afonso Penna. O lugar se chamava São Roque e
teve o nome mudado por divina inspiração do bom moço da Bahia. Vale
lembra que o americano Charles Gauld - autor de Farquhar, o último titã
- acusa Calmon de ser astuto e corrupto. Uma placa me chamou a atenção:
Calmon, capital da hospitalidade. Quando cheguei a Matos Costa o
chuvisco recém havia parado. Estacionei
em frente ao museu para conversar com a historiadora Joseti. O
estabelecimento estava fechado. Perguntei na casa em frente e me
informaram que ela falecera no mês passado. Entristecido
pela perda, deixei a cinzenta Matos Costa para trás. A cerração foi
ficando cada vez mais densa. Os mais de 1200 metros de altitude fazem da
antiga São João do Pobres uma pousada para o nevoeiro.
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Museu de Matos Costa acizentado pelo nevoeiro |
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Esta era a visão que eu tinha de dentro do carro |
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A medida que descia a serra, o nevoeiro e a chuva deram uma trégua.
Foram substituídas pelos buracos na estrada. Cheguei em Três Barras às
9h55 e conferi a temperatura - 15º. A cidade foi sede da Madeireira
Lumber e até hoje não conseguiu se desatrelar do extrativismo florestal.
A antiga estação ferroviária deu lugar ao museu do Contestado. Em
frente fica o quartel do Exército Brasileiro, ocupando a área que
pertencia a Lumber. Alguns prédios do tempo da madeireira ainda estão de
pé. A visitação ao local só pode ser feita com agendamento prévio e
sempre sujeita ao humor do comandante.
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Antiga estação, hoje museu |
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Casa remanescente da Lumber - quartel do exército |
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Antigo escritório central da Lumber |
Depois fui a Canoinhas
encontrar o historiador Fernando Tokarski, autor de Cronografia do
Contestado. Estudioso do Contestado desde o início dos anos 1980,
Tokarski é referência na região. Ele guiou-me por alguns lugares da
Canoinhas do início do século XX.
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Fernado Tokarski |
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Casarão do início do século passado - arquitetura americana |
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Casa do início do século passado - tempo da guerra do Contestado |
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O que resta do marco do Contestado (ver postagens da expedição) |
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Estação de desembarque das tropas do exército que lutaram no Contestad |
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Cruz plantada por São João Maria em Canoinhas |
Às 17h me despedi de
Fernando Tokarski e voltei para Caçador. Cheguei às 19h30, depois de
percorrer 157 km. No total, rodei cerca de 400 quilômetros.
Hoje fui a Santa Maria, no município de Timbó Grande. Despertei com a
sonzeira do Padre Lídio, mas voltei a dormir e só acordei às 7h15. Corri
para o chuveiro, tomei um banho e me mandei. Antes, passei numa
padaria. O sono me fez perder o café no seminário. Saí da cidade às 8h,
com 11ºnas costas. E fui pelo mesmo caminho que percorri há um ano. E
dá-lhe buraqueira. Quando deixei o asfalto e entrei na estrada de chão,
tratei de perguntar a um motorista de caminhão sobre a situação do
trecho, pois os muitos pontilhões da rodagem costumam ser levados pelas
enxurradas. Ele foi no caroço da questão: "a turma puxa madeira, né?".
Estrada de madeireiro, meu chapa, não pode ficar obstruída, pensei e fui
com fé.
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Pontes e pontilhões são um risco em época de chuva - ponte sobre o rio Caçador Grande |
O termômetro
atracou-se com os 11º. Nove horas da manhã e necas da temperatura subir.
Encontrei um senhor a cavalo. Sebastião Alonso, 79 anos mora em Santa
Maria e estava indo para São Sebastião. "Faço o trecho em cinco horas",
orgulhou-se. Dizendo ser bisneto do famoso Chico Alonso, ele
desconversou muito até contar duas ou três coisas relacionados à guerra
dos caboclos. E explicou o motivo da relutância: "não gosto de falar
porque fico emocionado. Eles (os caboclos) sofreram barbaridade. Meu avô
contava (e aí ele deixava escapar o verdadeiro laço com Chico Alonço)
que uma bainha de facão de couro cru dava um almoço".
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Sebastião Alonso |
Chueguei a Santa Maria e
fui ver o monumento do Contestado. O marco, que no ano passado
encontrei feito pedaços - e que o prefeito de Timbó Grande prometeu
reformar - continuava lá, mais despedaçado do que coração de
flamenguista depois de nove jogos sem uma vitoriazinha sequer. Ao lado, a
escolinha estava funcionando. A criançada brincava no pátio. Perguntei
pela professora e eles informaram que ela estava lavando a louça da
merenda. Mari Luíza, 49 anos é moradora do lugar e leciona desde 1994.
Formada por uma faculdade à distância, acumula as funções de professora,
zeladora, merendeira e diretora da escola. E recebe apenas o salário de
professora - R$ 500 e pouco. Para piorar, os alunos são de idade e
séries diferentes. Todos unidos por uma única professora dentro de uma
sala de aproximadamente 50m2. E que está reduzida de tamanho devido a um
rombo no assoalho. Olho para o "futuro da nação" e imagino a
dificuldade que será o futuro de Santa Maria.
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Luiza e seus alunos |
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Dar aula, preparar a merenda e lavar a louça |
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Assoalho comprometido reduz espaço da sala |
Em Timbó Grande
conversei com o secretário de agricultura do município, Édson Luiz, e
ele disse que "tem três escolas em Santa Maria; deve ter uns cem
alunos". De quebra, informou o nome da zeladora da escola. Como houve
muitas mortes por lá, na época da guerra, imaginei que a tal zeladora
deve ser um fantasma. Encontrei o operador de máquinas da prefeitura
Erico Groskopf, 47 anos. O salário dele? R$ 729,00. E pensei comigo: é
muita teimosia querer ser professor no Brasil. Fui ao secretário de
educação, José Guedes, e ele discordou da versão contada por Édsom,
confirmando a situação que presenciei. Quando perguntei se a professora
não estava tendo acúmulo de função ele foi categórico: "sobre isso não
posso responder". De cara amarrada, encerrou o assunto. O Contestado,
paisano, está com o passado comprometido e com o futuro hipotecado.
Depois completo esta postagem.
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Timbó Grande |
Perdizinhas e Caraguatá foram o meu destino hoje. Quando saí de Caçador,
por volta das 8h, o sol ainda não tinha forças suficientes para
desfazer o tapete de nuvens que impediam o brilho e o calor dele. 12º.
Segui na direção de Lebon Régis. Poucos metros após o quilômetro 117
fica a entrada para Perdizinhas. Buracos, buracos, buracos. Bastaram
três quilômetros e meio para eu avistar, do lado direito, uma construção
de madeira. Em frente, sob uns pés de pinheiro americanos, está o
carcomido marco do Contestado. Quatro das sete placas que formam o
monumento estão faltando. "Foram as pessoas que vieram de Curitiba quem
levaram", denuncia Roseli Marafigo, moradora da casa que fica nos fundos
do paiol. E completa: "veio um ônibus de Curitiba, faz uns oito anos, e
sairam andando por aí, conhecendo tudo. Uns deles arrancaram as placas.
Meu piá viu e disse que eles não podiam fazer aquilo, mas eles disseram
que iriam fazer umas cópias. Meu piá era pequeno e não pôde fazer nada.
No outro dia eu fui à cidade (Lebon Régis) e registrei um boletim de
ocorrência na delegacia". Perguntei se ela sabia alguma coisa sobre o
grupo paranaense e ela respondeu que "só sei que o nome de uma mulher
era Carol, só isso".
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Roseli Marafigo |
Sem ter a menor noção de quem era Carol, e muito menos de como
encontrá-la, fui um pouco mais à frente e entrei numa estrada da largura
de um sapato número 36. Antes, claro, fotografei a taipa ao lado do
marco do Contestado. Historiadores afirmam que ela foi usada pelo
exército como crematório de caboclo. Roseli garante: "pode cavar lá
dentro que o senhor achará ossos".
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Taipa serviu de "microondas" usado pelo exército |
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Taipa, agora, só recebe vegetação |
Espremendo o carro, alcanço a antiga casa de João Ventura. Filho de
Chico Ventura, um dos primeiros líderes dos sertanejos religiosos, João
foi tamboreiro do reduto. A construção, que sobreviveu a guerra, está
lá. Um símbolo da resistência cabocla. De alteração só tem uma varanda
coberta por telhas de amianto. Entrar é mergulhar num portal que remete o
visitante aos anos 1910. Toda feita em madeira - exceto um cubículo
erguido anos depois, na frente -, foi completamente preservada. A
maioria dos cômodos não possuem iluminação artificial. Réstias de sol
entram pelas frestas e dão ao local um aspecto mais antigo ainda. O dia
ensolarado facilita minha incursão. Peço permissão para subir ao sótão.
Sou autorizado, não sem uma reserva: "cuidado com os degraus". Pé ante
pé, alcanço o assoalho superior. Por uma rótula, consigo ver a vereda
que traz àquela que foi o lar de Ventura. O cheiro no interior da
residência do velho líder dos rebeldes é uma mistura de vários aromas.
De cara, identifico três: tabaco, mofo e fumaça.
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Casa de João Ventura - Perdizinhas/Lebon Régis |
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Eu estive lá, na casa de Ventura |
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Interior de um dos quartos |
O sol já reinava absoluto no chão que um dia abrigou os caboclos
rebelados, quando deixei a casa que morou João Ventura. Fui à Caraguatá.
Pense numa estrada ruim. Multiplique por 27. É a que vai para São
Sebastião do Sul. O lugarejo já teve diversos nomes - entre eles,
Caraguatá e São Sebastião. Do asfalto até o povoado são exatos onze
quilômetros. Que saudade da motoca. Tinha que dirigir a 20km/h. Na moto,
ano passado, eu andava a 80 sem correr risco - exceto a possibilidade
de cair e quebrar uma perna, os dois braços e 72 costelas. A verdade é
que a estrada é feita para motocicletas e caminhões que carregam
madeira. Se não fosse o visual, seria um terror.
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Estrada para caraguatá |
São
Sebastião é um lugarejo com uma meia dúzia de três ou quatro casas.
Mato à dentro, no entanto, elas ganham número que chega aos três
dígitos, segundo moradores do lugar. Não tem uma escola, sequer. Grande
mesmo só o cemitério, que tem até lápide feita toda em madeira.
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Lápide em madeira |
Aproveitei
para registrar minha passagem pelo povoado atacado pelo exército na
guerra fratricida que exterminou moradores do sertão catarinense no
início do século passado.
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Opa, o Gile foi lá, sim senhor |
Depois de uma noitada regada a refrigerante e pizza, na companhia dos
meus amigos do seminário diocesano, recolho-me ao catre por volta de 1h.
Acordo duas horas depois sob os acordes celestes, literalmente. A
trovoada, seguida de grossos pingos, encharca Caçador. É, não adiantou mandar lavar a charrete, constato. Deixo o município que mais produz tomate por hectare do Brasil por
volta de 8h. Mais uma vez perco o café da manhã. Pães de batata me
esperam na padaria. A chuva persistente faz os 15º ter cara de oito.
Quarenta quilômetros depois, estaciono no hospital de Lebon Régis. Lá,
converso com Rose Maria, filha de João Ventura. Ele morreu aos cem anos
de idade. Rose é filha do segundo casamento de Ventura. "Quando meu pai
casou com minha mãe, ele já tinha setenta anos; ela, vinte e cinco.
Minha mãe teve quatro filhos, duas meninas e dois 'piá'", informa a
auxiliar de serviços gerais. Como um bom nordestino, que perde o amigo
mas não o chiste, brinco: "que menino danado, hem". Rose ri como se
estivesse sem fazer isso há décadas. Mais descontraída, diz sem deixar de lado o tom respeitoso comum aos moradores da região: "Eu nasci naquela casa que o senhor conheceu".
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Rose Maria |
O avô de Rose, Chico Ventura, foi, ao lado de Euzébio Ferreira dos
Santos, os principais aglutinadores da religiosidade cabocla do
Contestado. Vale ressaltar que o ajuntamento comandado pelos dois era
eminentemente religioso. Com o passar do tempo a coisa foi tomando
aspecto de revolta popular. Rose diz que o pai pouco falava com a
família sobre a guerra. "Ele contava mais para os outros, com a gente
quase não contava", observa. "Eu lembro que ele dizia que era muita
festa", completa. Depois arremata: "mas depois veio muito sofrimento, muita morte; aí a fome foi grande".
A chuva não dava trégua quando seguí para Curitibanos. O zigue-zague da
estrada tinha um ingrediente - as panelas no asfalto. Por volta das
10h30 dei uma passada no Museu Histórico Antônio Granemann de Souza, de
Curitibanos. De lá, fui à residência de Altair Goeten de Morais, um
pesquisador local do Contestado. Uma hora de bom papo passa rápido.
Enquanto o Bee Gees cantava "Feel I'm goin' back to Massachusetts", a bússola no painel apontava a direção leste - Floripa, estou voltando.
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Museu Granemann em Curitibanos |
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Aldair Goeten
Distância total percorrida: 1.580 quilômetros.
Municípios visitados: Caçador, Calmon, Matos Costa, Canoinhas, Três Barras, Monte Carlo, Frei Rogério, Curitibanos e Lebon Régis.
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