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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Presidente da FENAJ faz duras críticas ao STF

E aí, beleza?

Hoje eu etrevistei o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murillo de Andrade. Combinamos a entrevista em um Café, no Centro de Florianópolis. Cheguei alguns minutos antes e ele já estava lá. Cabelo no estilo militar, calça jeans e camisa de gola pólo. Sempre sorridente, Sérgio Murillo só mudou o semblante quando falei sobre a decisão do Supremo  Tribunal Federal em desregulamentar a profissão de jornalismo, que ele chamou de leviana. O que levou o STF a tomar a decisão? Houve pressão por parte dos empresários? A decisão do STF beneficiou a democracia, como disse o presidente do Supremo? Leia a entrevista e saiba o que Sérgio Murillo pensa sobre a questão que já dura quase uma década.


SCJ - Qual a principal luta, hoje, da FENAJ?

SM - A defesa da regulamentação da nossa profissão e da formação superior como critério democrático de acesso à profissão. É, de fato, a principal bandeira, hoje, em função principalmente das ações da justiça brasileira, o que é lamentável, porque em pleno século XXI nós estamos com lutas da metade do século passado. Estamos lutando contra retrocessos que deveriam ter sidos resolvidos a mais de 50 anos. Isso é uma tragédia para nossa profissão e para o próprio país. É muito ruim ficar questionando se é importante, ou não, a formação escolar como critério de acesso às profissões.


SCJ - A FENAJ pecou em algum momento antes da decisão do Supremo Tribunal Federal(STF)? Ela achou que a causa estava ganha?

SM - Nunca achamos isso; quem achou isso foi uma parte da direção das escolas de jornalismo no Brasil, boa parte do movimento estudantil dos jornalistas, uma parte significativa da nossa profissão e da própria sociedade. Até a OAB nós procuramos e eles não acreditavam que o STF cassaria a obrigatoriedade do diploma.  Nós passamos os últimos dez anos alertando a todos sobre o problema. Desde 2001, quando começou essa luta, a FENAJ não passou uma semana, sequer, sem trazer o assunto à tona, seja no Boletim da Federação ou em debates que alertavam a sociedade.


SCJ - Então, o assunto não foi levado a sério?
SM - A verdade é que muita gente não acreditou. Se tivesse de fazer uma crítica, eu faria, foi na nossa incapacidade de convencer as pessoas dessa ameaça. Muita gente da nossa profissão, que se julga uma profissão bem informada, não sabia desse processo. Muita gente ficou surpresa de ver essa informação sendo veiculada pela Rede Globo naquela noite do julgamento. 




GM - A grande imprensa boicotou o tema?
SM - A nossa dificuldade foi multiplicada em função de que os grandes veículos não colocaram o tema na agenda. As nossas discussões raramente são levadas ao conhecimento da sociedade por decisão desses empresários que cotrolam a agenda da esfera pública.




Os ministros do Supremo Tribunal Federal mostraram um grau absurdo de desinformação





GM - O ministro do STF, Gilmar Mendes, argumentou que a desobrigatoriedade do diploma favorece a democracia na imprensa. Qual sua opinião?
SM - Conversa fiada, conversa pra boi dormir. Qual democracia, democracia de quem, dos empresários? Desses que controlam os meios de counicação, que decidem de acordo com seus interesses comerciais, políticos, absolutamente particulares o que deve ser, ou não, discutido pela sociedade? Foi essa democracia que foi favorecida. O que fez o ministro Gilmar Mendes e os que o acompanharam no voto foi substituir um critério democrático, que valoriza o mérito pessoal por um critério autocrático. Ou seja, quem vai decidir em última instância quem é, ou não, jornalista são os empresários. É isso que se chama de democracia? Essa decisão é um enorme retrocesso e não tem similar no mundo. Os ministros demonstraram um grau absurdo de desinformação. Gilmar Mendes atendeu o interesse dos empresários. 




GM - Dá pra reverter essa decisão?
SM - Não é fácil, mas não é impossível. A gente sabe que dezenas de parlamentares são concessionários de rádio e televisão e têm interesse direto nessa disputa. Mas se existe uma forma de ganharmos essa disputa é o congresso, afinal, com todas as mazelas é o poder mais transparente. A Câmara e o Senado.




GM - Em que o Supremo se baseou para decidir que a formação universitária não é relevante?
SM - Formação universitária sem qualidade não é um problema exclusivo da nossa profissão. A OAB, por exemplo, está preocupadíssima com a qualidade do ensio de Direito no Brasil, mas tem algum louco propondo acabar com o ensino de Direito? Se você localiza a doença precisa tratar o paciente, e não matá-lo, como fez o Ministro Gilmar Mendes.




Decisão do STF foi irresponsável e leviana





GM - E se a desregulamentação for mantida, qual será a posição da FENAJ?
SM - Nós não vamos ficar de braços cruzados aceitando essa situação de barbárie, de caos, que nos está sendo imposta por essa decisão irresponsável e leviana do STF.




GM - Quem mais pressionou o STF para cassar a obrigatoriedade do diploma?
SM - Os empresários. Os donos de jornais, de televisão, de revistas. Fizeram um pressão danada. Primeiro por omitir o debate, segundo porque, na véspera da decisão do Supremo a ANJ e ABET recepcionaram o presidente do Supremo num jantar e fizeram um lobby escandaloso. 




GM - Qual o interesse dos empresários em desregulamentar a profissão?
SM - Para arrochar salários, precarizar, ainda mais, as relações de trabalho no país e manter um controle absoluto sobre os conteúdos que são veiculados. Até porque uma categoria, regulamentada, crítica, que tem acesso a uma boa formação, é uma profissão que tem condições de resitir às iniciativas de manipulação. Se você quebra essa categoria, você diminue a resistência.




GM - As faculdades têm contribuido para melhorar a qualidade do jornalismo brasileiro?
SM - Claro. Até o mais estúpido opositor da exigência do diploma é obrigado a reconhecer a enorme contribuição que as escolas de jornalismo deram nos últimos 60 anos para qualificar e moralizar essa atividade profissional.






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