O Flamengo é o campeão brasileiro de 2009. Com todos os méritos e deméritos. Isso mesmo, mérito porque soube acelerar na hora certa. Mérito porque tem a maior torcida do Brasil e o Maracanã pintado de preto e vermelho fez diferença. Mérito porque o presidente da CBF é flamenguista de carteirinha. Opa, acho que já entrei nos deméritos! Na verdade quando falo em demérito não me refiro ao time carioca, faço alusão ao próprio campeonato.
De Norte a Sul do continente brasileiro uma verdade é dita em alto e bom som: o futebol carioca é uma bagunça. Meus amigos – até porque acho que quem está lendo essa crônica ou é homem ou flamenguista, ou os dois, claro – se essa verdade é, de fato, verdade, tenho mil motivos para falar em deméritos. Lembro muito bem que em determinado momento do campeonato assisti uma reportagem onde o repórter analisava a situação dos clubes cariocas. O Flamengo, dizia ele, está em crise. Chegou a escalar garotos porque não tinha plantel suficiente para encarar a maratona de jogos. Andrade era técnico interino e não agradava a apaixonada massa alvinegra. O Botafogo trocara de técnico e não vivia dias melhores. O Fluminense, ah coitado! E o Vasco da Gama estava na série B.
Agora vejam só, o futebol do Rio de Janeiro sagra-se campeão das séries A e B. Vamos deixar a B de lado. Como pode uma federação tão desorganizada ter um filiado campeão do “maior campeonato de futebol do mundo”. Coloquei as aspas pra ninguém pensar que eu acredito nisso. Ora, a coisa é óbvia: quem trabalha com porco, no mínimo, cheira a lama. Assistindo pela TV, ouvindo pelo rádio ou lendo os jornais a situação parece a mesma. A falta de ética, de organização e de profissionalismo no futebol tupiniquim é uma coisa horrorosa. Esse campeonato teve de tudo. Tudo de ruim, lógico. Pra se ter uma idéia, o mentor do Flamengo é o sérvio Peticovich, que foi contratado contra a vontade do treinador. Isso mesmo Cuca – treinador, à época – não queria o gringo, e cá pra nós: quem queria?
Só pra atiçar a discussão eu vou citar o Palmeiras. O articulador do Verdão é Cleiton Xavier, um alagoano revelado pelo CSA e posteriormente contratado pelo Internacional de Porto Alegre. Não se firmou e acabou no Figueirense. Jogou duzentos anos no time de Florianópolis e até então era um jogador comum. Depois que foi para o Parque Antártica virou celebridade. E, de fato, é o motor do time. Tanto é que quando ficou fora da equipe, por lesão, o Palmeiras entrou em queda livre. E o Corínthians, que tem como principal jogador o peso-pesado Ronaldo? Sem falar do Atlético Mineiro, cuja atração é Ricardinho, reserva de Rivelino na copa de 70. Vamos parar por aqui? Esse é o campeonato que o Flamengo ganhou.
E porque digo que o Flamengo ganhou? Porque a partida do próximo domingo no Maraca será apenas para cumprir o regulamento e para que o Mengão possa dar a volta olímpica. Vocês ouviram o que o Souza, do Grêmio, disse? Vocês viram a declaração da diretoria gremista sobre os jogadores que serão escalados? Sentiram a revolta da diretoria do Internacional – que sabe como funciona o futebol e tem certeza que o Grêmio vai ao Rio a passeio. Sem falar na declaração de Tadeu Shimidt, ontem no fantástico. Pois o cidadão chegou a perguntar se o Grêmio iria ajudar o Inter a ser campeão. Mal, muito mal para um jornalista. Pois é, o papel dos jornalistas que cobrem o futebol, com raras exceções, também pode ser visto com demérito.
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