Mosimann e o mau humor

E aí, beleza?

          Tem coisa pior que o mau humor? Não, não é? A pessoa mal humorada parece que está sempre respirando o ar da pocilga. Isso mesmo, fica sempre com a postura de um inquisidor prestes a botar alguém na fogueira. E qual o vivente que não conhece um sujeito desses? Eu não me refiro a uma pessoa que tem alterações de humor, essas inquietações são próprias do ser humano. Uns se irritam mais facilmente que os outros. Porém o mal humorado...

          Eu fiz uma disciplina, na faculdade de jornalismo, chamada mídia II. A aula começava às oito horas da madrugada de segunda feira. Os alunos iam chegando a conta-gotas, arrastando os pés com uma vontade imensa de não chegar à sala. Os olhos semicerrados indicavam que a noite fora curta. Imagine como fica o professor nessa situação. É preciso carregar água no balaio se quiser ter a participação da turma. Falando no teacher, o cara era daqueles que não tem boca pra nada. Cidadão bem educado, comedido e respeitador.

          Rogério Mosimann é o nome dele. No afã de tornar o conteúdo mais digerível costumava recorrer a sua verve humorística. É bem verdade que o cara não é nem um Tom Cavalcante, todavia era de se louvar a atitude dele para motivar a platéia. Muitos acabavam entrando na onda e se divertindo com as puerilidades. Mas tinha uma moça que, Deus me livre. Não era bonita, mas pra feia não servia. Boa aluna. Tinha amigos, e amigas. Mas era de um mau humor que deixava qualquer agente do DOPS se sentindo um palhaço de circo. Pobre Mosimann, como sofria na mão dela.

          A beldade estava sempre retrucando o que ele dizia. Quando ouvia uma piada, achava sempre sem graça. Por melhor que fosse o trocadilho era recebido com uma virada de olhos e um respirar profundo. Os muxoxos eram uma constante. Às vezes nem as amigas suportavam e, de quando em quando, enchiam os ouvidos da donzela de disparates. E olha que o mau humor é virótico. Tinha gente que entrava na pilha e passava a hostilizar o azarado que foi escolhido para ensinar, no caso, Rogério.

          Depois eu tive o desprazer de cursar outras disciplinas com a moçoila. Era sempre o mesmo mau humor. Aliás, nas poucas vezes em que a vi sorrindo era sem um motivo decente que justificasse o ato. Agora eu fico pensando, cá com meus cadarços, coitado de quem tem que aturar uma pessoa mal humorada. Eu digo, tem que aturar, porque quem não é obrigado a suportar, que é o meu caso, já manda a pessoa fazer aquilo aquilo. Se você é homem substitua o aquilo aquilo por um desaforo bem contundente. Se você é mulher não faça a substituição que sugeri para os homens, caso contrário você vai ficar rubra de vergonha.

          Uma coisa que eu percebo no mal humorado é a inveja. Isso mesmo, ele inveja o riso do feliz e tenta, a todo custo, transformar uma risada em um desgosto. Claro, o mal humorado é um sujeito incompetente que não soube administrar seus desalentos e acabou virando um taciturno revoltado. Agora me diga a verdade, vossa excelência já viu alguém que é competente, realizado no lado sentimental, espiritual e financeiro viver de cara amarrada? Tô de brincadeira, não precisa tanto pra estar de bom humor. Eu, aqui entre nós, penso que o mal humorado acha que é preciso ser um James Bond, ou uma Mulher Maravilha, para ter motivo de dar uma simples gargalhada.

          Agora, toda vez que eu vejo um mal humorado lembro daquela pobre moça. Lembro também do bravo Mosimann, bravo porque suportou até o último dia de aula os arroubos coléricos da infeliz. O Sheid teve uma crise de mau humor; ficou sem nenhuma pulga. Claro, elas não suportaram e vazaram uma a uma. Ainda bem que o canino fez um tratamento e voltou ao normal.  Eu já estava pronto para trocá-lo por um hamster.