Hoje eu vi o que é exploração. Estava olhando os pássaros, coisa que adoro fazer, quando percebi um filhote de chupim com o bico aberto em clara e manifesta reivindicação por comida. Ele pulava no gramado num frenesi louco, abria as assas, chorava – isso mesmo, parecia um bebê faminto – e exigia alimento. Olhei em volta procurando uma mamãe chupinha e não vi nenhuma. Eu escrevi, chupinha, porque não gosto de tratar ninguém, nem mesmo uma ave, pelo nome de outro. Aliás, já falei sobre isso quando fiz uma crônica sobre o sanhaçu. Para mim, se existe o chupim, a fêmea dele é a chupinha e caso encerrado. Mas vamos retornar à cena do neném chupim.
Eu tinha certeza que aquele chupinzinho não estava só. Uma mãe que se preza não abandona a cria faminta, principalmente se essa cria ainda não consegue caçar uma refeição decente. De repente pousou uma tica-tica – fêmea do tico-tico – e trouxe no bico uma porção de banana para o chorão. Ué, a tica-tica está dando comida para o chupim? Isso mesmo, e olha que o chupim não come pouco! Macacos me mordam, o filhote de chupim era, no mínimo, duas vezes maior que a tica-tica! Foi quando caiu a ficha, ou o crédito. É que a senhora chupinha, preguiçosa como poucos, ao invés de fazer um ninho e colocar seus ovos, como todo pássaro decente faz, prefere a sacanagem.
Eu chamo de sacanagem, até porque não encontrei uma palavra mais propícia. A malandra procura o ninho de outra ave, entra nele, deita-se e põe seus preciosos ovinhos. Às vezes é no ninho de uma canária, de uma pardala ou de uma tica-tica, como foi o caso. Quando o filhote nasce, a mãe de aluguel arca com as conseqüências. Imagine você, uma pequena tica-tica tendo que alimentar um chupim enorme. Desta forma a espécie chupim é preservada, à custa do suor e do bico alheio. É de dar dó, a tica-tica vem com o bico cheio de comida e o glutãozinho engole de uma só vez, como se não fosse suficiente nem para tapar o furo no dente. A coitada da tica quase se mata para alimentar o bastardinho que quando cresce dá-lhe um pezaço.
Fiquei matutando e cheguei à conclusão que o chupim deveria ser a ave símbolo do Brasil. Não, nós brasileiros não merecemos. Acho que o chupim deveria ser a ave símbolo dos políticos, e não só dos nossos. É claro que para toda regra tem exceção, por incrível que pareça. Mas o que tenho percebido é que muitos políticos – pode ler chupins – colocam os filhos na política. É o caminho mais fácil para garantir o sucesso financeiro do pupilo. Quem paga a conta é o povo, lógico. Não vou citar o caso dos Bornhausen (Santa Catarina) porque os assessores deles vão achar que estou de perseguição. Mas tem os Neves, (Minas Gerais), os Alves (Rio Grande do Norte), e um balaio de outros espalhados pelas terras descobertas por Cabral. E o chupim-pai vem, com a cara mais lisa do mundo, dizer que o herdeiro é vocacionado. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves chega a dizer que é predestinado. Eu sei. O pai era deputado, e o avô era Tancredo Neves. Morou com os pais até os 22 anos, quando foi participar da campanha de Tancredo para o governo mineiro. Isso sim é que é ter genética.
Engraçado que eu nunca vi um assaltante ser absolvido por não ter culpa de ser o que é. Explico: o cara pode dizer que o crime, no caso dele, é uma herança genética! Não cola, não é? Mas político, que é político, transmite ao filho a política através do sangue. O Sheid, meu cachorro, está dizendo que o chupim faz correto. Acabei de dá-lhe uma bicuda. Se bem que, acho que tem muita gente concordando com o Sheid.
- Vem cá, Sheid, leva uma comidinha ali para o chupim. Faz esse favor porque eu tenho que sair para pagar o IPTU.
Huahuahuah! Como eu nao tinha pensado nisso! O chupim é o mascote dos nossos políticos. Huahuahuhua!
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