Nesta semana sobrevoei o sertão nordestino. A caatinga amarronzada, o sol impiedoso e a falta de chuva deixam claro: Papai Noel não esteve ali. Mesmo assim o telejornal insiste em mostrar que o bom velhinho está vivo e solto no planeta terra. O aparelho de tv apresenta ruas, distantes da seca, movimentadas pelo frenético vai e vem das pessoas. São homens e mulheres que gastam parte do salário, ou todo ele, comprando presentes para os parentes mais próximos. Estou me aproximando de Natal, capital do Rio Grande do Norte, e o Natal dos cristãos parece cada vez mais perto.
A chegada ao estado do nordeste, que era meu objetivo, pareceu ficar em segundo plano. Olhar do alto e ver um lugar castigado pelas condições climáticas me arrebatou. De repente o repórter, que fazia o trabalho dele, me pareceu um ilusionista. Como falar em nascimento do Menino Deus, em festa e presentes enquanto meus irmãos padecem? Talvez em Natal o natal faça mais sentido, imaginei. Mas minha mente insistia em ficar nas terras áridas e quentes do interior do estado. Não conseguia parar de imaginar a noite de natal em casebres feitos de pau-a-pique. Recusava-me a mentir para mim mesmo e tentar achar que aquilo não era problema meu.
Não fazia sentido pensar nos povoados, abaixo de mim, recebendo um senhor de aparência nórdica com um saco cheio de presentes. Tinha muito mais lógica se ele trouxesse uma bombona de água mineral mágica, que vertesse eternamente. Quem sabe o sexagenário alvirrubro, ao invés de vir de trenó, não visse em um carro pipa e deixasse o possante no meio da rua, para beneficiar a todos. Não, o sertanejo não pode acreditar no natal da reportagem. Nessa hora eu, que tanto critico o assistencialismo governista, me rendo à realidade: bendita bolsa família. Senti certo alívio em saber que o imposto que pago pode representar a única coisa realmente natalina na casa das famílias dos sertanejos.
As crianças não pedem muito da vida, nem do São Nicolau. Chuva e saúde são suficientes. Mas a falta da primeira afugenta a segunda. As barriguinhas crescidas dos pequenos indicam que o natal poderia trazer um médico para os povoados. Uma caixa de medicamentos e um discípulo de Hipócrates fariam muito mais sentido que um velhinho em final de carreira. Fiquei chateado, irritado, pensando nos desvios das verbas públicas. Indignado com os governantes que roubam o direito do pobre de festejar o natal. Revoltei-me com os jornalistas que produzem reportagens sobre um natal opulento, belo e quimérico. Mas, acima de tudo, um natal mentiroso. Um natal que não tem nada a ver com o filho de Deus. Um natal consumista, desumano e cruel.
A chegada ao estado do nordeste, que era meu objetivo, pareceu ficar em segundo plano. Olhar do alto e ver um lugar castigado pelas condições climáticas me arrebatou. De repente o repórter, que fazia o trabalho dele, me pareceu um ilusionista. Como falar em nascimento do Menino Deus, em festa e presentes enquanto meus irmãos padecem? Talvez em Natal o natal faça mais sentido, imaginei. Mas minha mente insistia em ficar nas terras áridas e quentes do interior do estado. Não conseguia parar de imaginar a noite de natal em casebres feitos de pau-a-pique. Recusava-me a mentir para mim mesmo e tentar achar que aquilo não era problema meu.
Não fazia sentido pensar nos povoados, abaixo de mim, recebendo um senhor de aparência nórdica com um saco cheio de presentes. Tinha muito mais lógica se ele trouxesse uma bombona de água mineral mágica, que vertesse eternamente. Quem sabe o sexagenário alvirrubro, ao invés de vir de trenó, não visse em um carro pipa e deixasse o possante no meio da rua, para beneficiar a todos. Não, o sertanejo não pode acreditar no natal da reportagem. Nessa hora eu, que tanto critico o assistencialismo governista, me rendo à realidade: bendita bolsa família. Senti certo alívio em saber que o imposto que pago pode representar a única coisa realmente natalina na casa das famílias dos sertanejos.
As crianças não pedem muito da vida, nem do São Nicolau. Chuva e saúde são suficientes. Mas a falta da primeira afugenta a segunda. As barriguinhas crescidas dos pequenos indicam que o natal poderia trazer um médico para os povoados. Uma caixa de medicamentos e um discípulo de Hipócrates fariam muito mais sentido que um velhinho em final de carreira. Fiquei chateado, irritado, pensando nos desvios das verbas públicas. Indignado com os governantes que roubam o direito do pobre de festejar o natal. Revoltei-me com os jornalistas que produzem reportagens sobre um natal opulento, belo e quimérico. Mas, acima de tudo, um natal mentiroso. Um natal que não tem nada a ver com o filho de Deus. Um natal consumista, desumano e cruel.
Aos poucos o verde vai tomando conta da paisagem. Natal chegou. Belas praias, prédios e festas. Envergonho-me. Lembro do poeta que disse: “eu não sou dono do mundo, mas tenho culpa porque sou filho do dono”. Não, o natal não vai chegar. Enquanto uma criança passar fome, o natal será sempre um embuste.
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