Feliz Natal, com muitas mentiras

          Minta, minta bastante para seu filho. Ele vai crescer e se tornar um adulto que não mente. Eu acho muito legal a forma que a graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaande maioria dos pais educa seus pimpolhos. Uma coisa que me chama atenção é o dia de natal. As crianças, que estão em formação, escutam o tempo todo que Papai Noel vai trazer presentes. Que o bom velhinho está vindo do Pólo Norte com um saco cheio de brinquedos para dá-los aos pequeninos. E tem mais: vem num trenó puxado por renas que voam.
         
         Tudo mentira! Mas a causa é justa, afinal de contas é apenas uma forma de alimentar o imaginário infantil. Tsic, tsic, tsic. Balela das grandes. A criançada acredita na palavra do adulto. Para ela o Papai Noel existe, de fato, como é contado. Ora, ora, essa estória do velhinho colorado já deu! Ela precisa, no mínimo, passar por uma releitura. Primeiro porque o octogenário Noel já deveria estar aposentado. Se não está, precisamos fazer alguns ajustes. Caso contrário a piazada vai findar descobrindo a mentirada. Primeiro: para sair do extremo norte do planeta e viajar pelos continentes, o barbudo precisa de um saco bem maior do que o mostrado na mídia. Com um pequeno detalhe: ao invés de presentes o sacolão do vovô deveria estar recheado de remédios. Claro, para agüentar o tranco da viagem, haja medicamento. Por falar em barbudo o cidadão precisa de um marqueteiro. Lembra, leitor, do presidente Lula? Precisou mexer na aparência para ganhar as eleições. Estamos na época das depilações. Os homens estão arrancando até as sobrancelhas. O bebê se acostuma com um pai imberbe, e mais liso que um muçum. De repente tem que sentar no colo e beijar um rosto que é puro cabelo. Ui, que nojo.

          Outra coisa que não cola mais é o transporte do coroa. Esse papo de rena voadora não cabe mais. Se for para manter a mentirada, fazem-se necessárias outras adaptações. O cara preciso de um jato supersônico, com telefone e internet via satélite. Com um enorme compartimento de cargas, por sinal. Sem falar na história das meias que precisam ser deixadas nas janelas das casas. Que papo mais retrógrado. Meu querido, quando o filho nasce, hoje, o pai já cria a página do bebê no Orkut. Sem falar que Noel já deveria ter twitter, facebook, msn e otras cositas. Óbvio, o homem precisa estar conectado. Para fazer um pedido bastaria entrar na internet e mandar uma mensagem para o idoso do pólo. Acho que ele teria que ter um cadastro de todas as crianças do mundo. E o cadastro não poderia ser comprado do banco de dados do governo. A coisa teria que ser transparente.

          Eu digo isso, mas acho que a mudança teria que ser muito mais radical. As mentiras precisam ser melhor elaboradas. Os inocentes precisam se graduar desde cedo na arte de mentir. E tem mais uma: eu me proponho a ser o Papai Noel do Brasil em 2010. Sim, porque para 2009 não dá mais tempo. Funcionará da seguinte forma: farei a relação de todas as crianças brasileiras. O Governo depositará na minha conta bancária um valor “simbólico” de R$ 100,00 por cabeça. É o “Bolsa Natal”, a ser entregue aos filhos da pobreza. Espalharei Papai Noel em tudo que é povoado. Montarei um esquema com os prefeitos e ficarei muito rico. Dos R$ 100,00 repassados pelo Governo federal, por inocente, ficarei com R$ 40,00. O prefeito fica com R$ 40,00 e R$ 18,00 será destinado à fiscalização. No final, cada brasileirinho terá um super presente de R$ 1,99. Imagine, leitor, a enxurrada de dinheiro que será injetada em nossa economia! Mas enquanto isso não acontece eu desejo a você um feliz natal. Com muito Papai Noel, um peru bem gordo e mentiras mais aprimoradas em 2010.