Professor ganha pra isso

         Ludovico é um amigo meu. Ontem ele me contou uma história que se passou com o filho dele, Libório. O rapaz está fazendo faculdade de Ciência Política, aqui, em Floripa.

- Bem, gente, é o seguinte: eu trouxe as provas de vocês.
- Então, professor, já corrigiu?
- Não; na verdade vocês vão corrigir as provas uns dos outros.
- Como assim?
- Pra cada um de vocês eu entrego uma prova pra ser corrigida.
- Mas as questões são discursivas; como é que eu faço?
- Eu vou dizer o que tem que ter nas respostas e vocês avaliam.

         O diálogo, inteligentíssimo, aconteceu na sala de aula da faculdade. Libório, moço esclarecido e que não se deixa enganar facilmente, foi resignado: deu nota dez para a prova que recebeu. O problema é que ele nem sequer olhou as respostas. Disse que não cairia na conversa do educador. Eu troquei uma ideia com Libório e ele justificou a posição tomada.

- E aí Libório, por que você não corrigiu a prova?
- Porque eu vou à faculdade para estudar, não para corrigir prova de colegas.
- Mas, corrigindo, você não aprende?
- Essa não cola, amigo. Correção de prova é trabalho do professor. Ele ganha pra isso.
- Por que você deu dez na prova que corrigiu?
- Eu não corrigi, apenas dei a nota. Se o professor discordar, corrija, ele mesmo.
- Mais alguém agiu como você?
- Não; é muito fácil manipular as pessoas. No caso dos alunos, eles se acharam importantes, tendo que corrigir provas. Teve gente que fez questão de analisar detalhes das respostas.
- A tua prova foi bem avaliada?
- Não. A pessoa que me avaliou foi criteriosíssima, mais realista que o rei. Mas eu falei, depois, com o professor e ele me deu nota 8,5; tá bom.

Sabe que concordei com o Libório? Entretanto o que me chamou mais atenção, no caso, foi a passividade com que os acadêmicos lidaram com a situação. Olhe que são futuros profissionais. É como se eles não fossem capazes de fazer uma crítica a atitude do professor. Duvido muito que pessoas com esse tipo de atitude tenham força para dizer "nao" a um patrão sem ética.  Parecem ovelhas que se dobram passivamente ao cabresto de um dominador. Com um agravante: o fato aconteceu em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Não foi em uma cidade do interior nordestino.