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quarta-feira, 12 de maio de 2010

O medo faz cada coisa

          A verdade é que o medo faz coisas. Vais me dizer que nunca realizastes nenhuma doidice motivada pelo medo? Fez, não é? Vale salientar que deixar de fazer algo, é fazer. Óbvio. Implica em uma atitude. É uma questão a ser filosofada. Vamos ao medo. Uns conhecidos meus, moradores da Serra Catarinense, estavam conversando banalidades quando um dele, Elesbão, saiu-se com esta:

- Vocês sabiam que o melhor remédio para picada de cobra é chá de esterco de burro?
- Tá louco, cumpade? – estarreceu-se Arnóbio. – Não tomo um porcaria dessas, jamais. Prefiro morrer a beber um troço desses.



          Aí você já viu, não é? A discussão foi até o fim da noite. Toma ou não toma? Um dos compadres resolveu aprontar “pra cima” de Arnóbio. Combinou com os outros de fazerem um acampamento. Quando Arnóbio estivesse dormindo eles pegariam uma cobra morta e colocariam junto à perna dele. Então dariam uma espetada no pé do coitado e, quando ele acordasse, fingiriam que estavam matando a peçonhenta. Dito e feito. Fizeram tudo conforme o planejado. Quando o infeliz do Arnóbio acordou, foi aquele alvoroço.

- Chega, "cumpade", a jararaca me mordeu. – gritou o infeliz.
- Tenha calma, homem de Deus. Não há de ser nada.
- Mas eu já estou vendo tudo cinzento. – desesperou-se a vítima.
- Eh, tem um remédio muito bom pra isso, mas acho que tu não vais querer. – provocou o companheiro.
- Diga logo que remédio é, antes que eu morra. – suplicou o moribundo que a essas alturas esquecera do maldito chá.
- É chá de esterco de burro, Arnóbio.
- Então me dê logo um pedacinho pra eu ir mascando enquanto o chá fica pronto, cumpade.

          Pois é. O medo faz coisa.

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