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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Tô de saco cheio com a natureza

          Desculpe-me, amizade, se estou apelando para seu lado religioso, mas a causa é nobre. Um leitor não espiritualizado talvez já tenha sido tentado a parar com a leitura. Não faça isso, por favor, precisamos muito de você. Por outro lado, um ledor com inclinações para assuntos religiosos já deve estar querendo ir direto para o último parágrafo; anseia por saber o desfecho desta crônica. Comportamentos próprios do ser humano. Gostamos de tomar posicionamento. Explico antecipadamente que não me importa tua ideologia, se é que você tem, não me interessa teu credo e menos ainda as cores do teu partido. Precisamos da tua fé, se você é de fé, da tua energia, se és místico, do teu pensamento positivo, se és agnóstico.



          Como diria meu amigo Crasbonaldo, o seguinte é este: Santa Catarina vem sofrendo, e bastante, com os fenômenos da natureza. É ciclone, é temporal, é área de baixa pressão e tantos outros que já nem sei como denominá-los. No fim das contas, sobra para o povo. A corda quebra sempre do lado mais fraco. As barreiras caem, as rodovias ficam intransitáveis e a população fica isolada. Assim não dá. E eu entendo o problema. Preciso que você seja compreensivo. Hora, hora, nossos políticos carecem de dinheiro. Os coitados são esquecidos pelo populacho. O eleitor só lembra-se do vereador, do prefeito e do deputado quando chega a eleição. Depois abandona os infelizes a própria sorte. Só lhes resta uma alternativa: saquear o erário. E como fazer isso?

          Sabe aquela rodovia que depois de inaugurada não agüenta uma chuva de meia hora? Pois então, teve que ser feita com material de terceira categoria. O político é obrigado, pobrezinho, a superfaturar a obra. Aí sobram uns milhõezinhos para ele. Se não fizer assim, quem vai abastecer o barco do desgraçado? Quem vai comprar carro importado para o filho dele? Quem, quem? Quem bancará as noitadas, as viagens de avião e o luxo do miserando? Mas quando a malvada da chuva chega, não dá mole. Insensível natureza. Esburaca o pavimento e sacrifica os catarinenses. E ainda tem uns desalmados que insistem em colocar a culpa nos políticos. Falta amor nos corações de quem comete tal pecado. Tem mais.

          Sabe aqueles bueiros que entopem e impedem que a água da chuva escoe para onde deveria? Aquele sistema de esgoto foi mal feito porque os vereadores não se preocuparam com as ruas da cidade. Têm razão, entretanto os edis. Desviaram, justamente, a dinheirama. E aí fazem conchavos com empresários amigos, arrumam notas fiscais frias e enganam o ministério público. É a única forma de garantir um salário razoável. Se não, como poderão comprar apartamentos de um milhão, ou mais? Como gastar sem se preocupar com o saldo bancário? E tem jornalista que condena os desventurados. Insensíveis. Sheid, meu cachorro, acha que o problema dos bueiros é causado, principalmente, pelos moradores que jogam lixo na via pública. De fato, outro dia eu estava indo ao aeroporto e vi quando um motorista jogou uma lata de cerveja pela janela. Vamos, no entanto, aos verdadeiros culpados. Ou ao único.

          O principal, ou o único, é São Pedro. Ele mesmo, o cara que traiu Cristo por três vezes em menos de doze horas. É um traíra. Para muitos cristãos, é ele o responsável pela chuva. Se você, patriota, crer assim, peça de joelhos que o bola cheia tranque as torneiras do céu. Se isso não acontecer nós seremos obrigados a parar de construir em áreas de risco. Agora, se não és da cristandade, faça uma corrente, mande quinze mil emails para teus amigos e torçam, torçam com fervor, para que os ciclones e as tempestades deixem Santa Catarina. Que atinjam Cuba, Iran ou qualquer outro adversário dos nossos patrões – os Estados Unidos. Se nada disso funcionar, saiam às ruas pedindo aumento de 500% para os salários dos políticos. E que eles tenham direito a casa de praia, apartamento na beira do mar e duas Ferraris na garagem. Quem sabe assim sobrará um dinheirinho para eles investirem em infra-estrutura.

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