Comprou o terreno no melhor local que o bolso viu. Construiu a casa aonde iria morar até ficar com os cabelos nevados, as juntas encarangadas e a voz sonolenta. Numa rifa ganhou a companheira amada, idolatrada, salve salve do Brasil. Tudo bem, tudo bem, não conheceu a mulher no jogo. De tão bela, amável e intrépida, a abençoada mais parecia um prêmio. Os pombinhos tinham amigos em quantidade considerada. O homem gostava - e como gostava! – de jogar futebol. Não tinha a menor intimidade, contudo, com o brinquedo que levou o Brasil ao delírio em 1970 no México. Nas peladas, era sempre o último a ser escolhido. E o último, para ser sincero, não é escolhido. Escolhido é o primeiro, é o segundo, é o terceiro. Depois é tudo banana do mesmo cacho. O último, embora nem precise dizer, é o pior de todos. E o nosso amigo era quase sempre o derradeiro. A não ser quando aparecia algum que estava mancando devido ao dedão quebrado. Voltemos à casa.
Em um delírio pueril, misturado aos sonhos de um adulto menino, pediu a permissão da sócia de dormitório. – Mulher, eu gostaria muito de construir um campo de futebol em nosso quintal. É só para jogar uma bolinha com meus amigos, de vez em quando -. A esposa, como sempre, demonstrou prudência: - Isso não vai dá certo, Epaminondas, será muita gente entrando e saindo de nossa casa. Bebida, cigarro e bate-boca não faltarão -. O marido pediu, pediu, implorou e prometeu a mais perfeita ordem. Seria como Costa e Silva, controlando o campinho com um AI-5 na mão. Não restou alternativa à dama do lar. Campo feito, gramado impecável, hora de inaugurar. Sessentas amigos do peito, camaradas do tipo irmão. Ora, ora, se o cara teve dinheiro para fazer um campo no quintal, imagine se não pagaria um churrasco. Cerveja aos borbotões. Carne às pampas. Isso é que é fim-de-semana. Andradina, coitada, terminou a lida mais desgastada do que qualquer atleta. Era um corre-corre de buscar carne, comprar gelo e atender telefone.
E a romaria à casa dos dois repetiu-se, repetiu-se, repetiu-se. Andradina, coitada, já não brilhava. Epaminondas, esperto, já não era o último a ser escolhido. Era o escolhedor. O capitão da equipe. O Rivelino do pedaço. Ah, e o pagador também, toda a festa era por conta dele. – Acaba com esse negócio, Epaminondas. É muito homem em nossa casa. Meu fim-de-semana é uma correria, pareço mais uma empregada doméstica -, implorava a rainha do lar. Cá entre nós, ela estava mais para Jairzinho, o furacão da copa. Esqueci de contar que, com o passar do tempo. Epaminondas já não tinha controle sobre quem entrava e saía na residência. Tinha o amigo, o amigo do amigo e o vizinho do amigo do amigo. Até que um dia um bonitão, não suportou uma jogada desajeitada – vamos dizer assim – do Epaminondas e vociferou: - Sai, sai do jogo. Tu és muito ruim, dá o lugar para quem sabe jogar -. Epaminondas sentiu todo o desprezo que lhe perseguiu desde que deu as primeiras caneladas na coitada da bola.
Pegou a redonda com as mãos, olhou para o agressor e decretou: - Quem vai sair é você. E não vai sair do jogo, não. Vai sair da minha casa. Ou melhor, todo mundo vai sair. O jogo acabou. E não haverá mais futebol na minha casa -. A turba sai como se estivesse vinda de um velório. Muitos choravam por dentro. Epaminondas chorava mais do que todos. Resta-lhe a confissão: - Andradina, mulher, você estava certa. A partir de hoje, nunca mais haverá jogo em nossa casa -. Chora Epaminondas, chora Andradina. Choro de tristeza choro de felicidade. Acabou a festa, começará a festa. Foi em Brasília que esse fato aconteceu. Mudei os nomes das vítimas, mas o crime está registrado nas memórias de alguns funcionários do Banco do Brasil que moravam por lá nos anos de 1970.
Em um delírio pueril, misturado aos sonhos de um adulto menino, pediu a permissão da sócia de dormitório. – Mulher, eu gostaria muito de construir um campo de futebol em nosso quintal. É só para jogar uma bolinha com meus amigos, de vez em quando -. A esposa, como sempre, demonstrou prudência: - Isso não vai dá certo, Epaminondas, será muita gente entrando e saindo de nossa casa. Bebida, cigarro e bate-boca não faltarão -. O marido pediu, pediu, implorou e prometeu a mais perfeita ordem. Seria como Costa e Silva, controlando o campinho com um AI-5 na mão. Não restou alternativa à dama do lar. Campo feito, gramado impecável, hora de inaugurar. Sessentas amigos do peito, camaradas do tipo irmão. Ora, ora, se o cara teve dinheiro para fazer um campo no quintal, imagine se não pagaria um churrasco. Cerveja aos borbotões. Carne às pampas. Isso é que é fim-de-semana. Andradina, coitada, terminou a lida mais desgastada do que qualquer atleta. Era um corre-corre de buscar carne, comprar gelo e atender telefone.
E a romaria à casa dos dois repetiu-se, repetiu-se, repetiu-se. Andradina, coitada, já não brilhava. Epaminondas, esperto, já não era o último a ser escolhido. Era o escolhedor. O capitão da equipe. O Rivelino do pedaço. Ah, e o pagador também, toda a festa era por conta dele. – Acaba com esse negócio, Epaminondas. É muito homem em nossa casa. Meu fim-de-semana é uma correria, pareço mais uma empregada doméstica -, implorava a rainha do lar. Cá entre nós, ela estava mais para Jairzinho, o furacão da copa. Esqueci de contar que, com o passar do tempo. Epaminondas já não tinha controle sobre quem entrava e saía na residência. Tinha o amigo, o amigo do amigo e o vizinho do amigo do amigo. Até que um dia um bonitão, não suportou uma jogada desajeitada – vamos dizer assim – do Epaminondas e vociferou: - Sai, sai do jogo. Tu és muito ruim, dá o lugar para quem sabe jogar -. Epaminondas sentiu todo o desprezo que lhe perseguiu desde que deu as primeiras caneladas na coitada da bola.
Pegou a redonda com as mãos, olhou para o agressor e decretou: - Quem vai sair é você. E não vai sair do jogo, não. Vai sair da minha casa. Ou melhor, todo mundo vai sair. O jogo acabou. E não haverá mais futebol na minha casa -. A turba sai como se estivesse vinda de um velório. Muitos choravam por dentro. Epaminondas chorava mais do que todos. Resta-lhe a confissão: - Andradina, mulher, você estava certa. A partir de hoje, nunca mais haverá jogo em nossa casa -. Chora Epaminondas, chora Andradina. Choro de tristeza choro de felicidade. Acabou a festa, começará a festa. Foi em Brasília que esse fato aconteceu. Mudei os nomes das vítimas, mas o crime está registrado nas memórias de alguns funcionários do Banco do Brasil que moravam por lá nos anos de 1970.
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