Passou em disparada. Não devia ter mais do que cinco anos. Descaço, sem camisa, usava apenas uma sunga verde. A boca aberta só fazia berrar. Parecia ter sido predestinado a ser tenor. Até agora, o choro do danado reverbera em meu escutador de forró. Dez segundos depois, apareceu a mãe. Na mão direita, alguns brinquedos daqueles que as crianças gostam de usar para fazer piscinas na areia da praia. Na esquerda, uma espécie de esteira, daquelas que as mulheres adoram estirar na areia para, em seguida, prostrarem-se e esquecerem-se do mundo. E só abrirem os olhos se passar outra mulher perto precisando de uma inspeção. Os olhos denunciavam sua ascendência asiática. Caminhava olhando para o chão. Não sei se para não cair ou de vergonha de não ter o mínimo controle sobre um filho tão pequeno. Quase pisando nos calcanhares da mulher, veio o pai. Aquele famoso barriga de nós todos. Assim como o guri, vestia apenas uma sunga. Em uma das mãos, uma cadeira de praia. Na outra, um isopor. Ainda ouvi ela grunhir: “Não grite, filho”. Foi um combustível nas cordas vocais do rebento.
Fui forçado a interromper minha leitura. Do alto da varanda, onde eu estava espichado na rede lendo Milan Kundera, fiquei observando a família de veranistas. “Poxa vida”, pensei, “são quase duas horas da tarde. E nesse caso o guri deve até ter razão em chorar tanto. Deve estar com fome”. Aí escutei o homem berrar: “Você vai ter que almoçar, sim. Caso contrário, não vai à tarde para a praia”. Aí minha dúvida aumentou. Não quanto ao chororô, mas quanto à cabeça baixa da senhora. “Afinal, ela anda cabisbaixa envergonhada com o comportamento do piá ou com o jeitão do marido?”. No fim da tarde, quando fui caminhar, vi o trio na beira do mar. A mulher esparramada na esteira e o pai reclamando com o menino: “Você já chupou três picolés; não vou comprar mais”. Ao que o pimpolho respondeu: “Se não me der eu vou embora”. Preferi não assistir o desfecho da contenda. Mais tarde, quando eu já estava em casa, eles regressaram. Os dois bebês de sunga e a senhora de maiô. Ê, verão.
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Papai Noel maranhense
Memórias das Minhas Putas Tristes. Esse é o livro. Há quem diga que a obra está no topo das mais lidas pelos políticos brasileiros com idade acima dos 70 anos. Não pela reflexão que o personagem nonagenário de Garcia Marquez faz sobre a vida, e sim pelas putas. Putas tristes, putas felizes ou seja lá qual for o tipo de comportamento que apresentem. Sheid, meu cachorro, que há tempos estava fora do nosso planeta, com medo do efeito estufa, elegeu o deputado Pedro Novais como legítimo representante dos anciãos dados ao baixo meretrício. O político maranhense promoveu uma orgia em um motel da capital brasileira do reggae. “Eram vários casais, várias pessoas, e nós cobramos por casal”, explicou a gerente do estabelecimento. E acrescentou: “era um dos quartos mais caros; já que tem piscina, banheira, sauna, tudo isso”. Deputado desde 1983, ex- auditor fiscal do Tesouro Nacional e advogado, o raparigueiro botou a despesa na conta da Câmara. Vacilou.
No início do mês natalino, o Papai Noel da putaria foi indicado para assumir um ministério no governo Dilma. Aí a cueca caiu. Os inimigos políticos do piá, acostumados às “práticas republicanas” e pós-graduados em sacanagem, denunciaram, por pura inveja, o ancião da luz vermelha. Ou você, paisano, acha que só agora o delito foi descoberto? Claro que não, não é? Nossos homens públicos sabem direitinho como, quando e como roubar o erário. Na hora que resolvem ferrar um colega, é muito fácil. Tem gente dizendo que o Sr. Novaes é inocente, as putas é que são culpadas de terem seduzido o vovô maranhense. Ouvi um cidadão dizer que a festança no motel, paga com o dinheiro público, foi uma palhaçada. Aí eu sou obrigado a discordar. Por favor, senhoras e senhores, não vamos envolver Tiririca nesse mar de camisinhas.
No início do mês natalino, o Papai Noel da putaria foi indicado para assumir um ministério no governo Dilma. Aí a cueca caiu. Os inimigos políticos do piá, acostumados às “práticas republicanas” e pós-graduados em sacanagem, denunciaram, por pura inveja, o ancião da luz vermelha. Ou você, paisano, acha que só agora o delito foi descoberto? Claro que não, não é? Nossos homens públicos sabem direitinho como, quando e como roubar o erário. Na hora que resolvem ferrar um colega, é muito fácil. Tem gente dizendo que o Sr. Novaes é inocente, as putas é que são culpadas de terem seduzido o vovô maranhense. Ouvi um cidadão dizer que a festança no motel, paga com o dinheiro público, foi uma palhaçada. Aí eu sou obrigado a discordar. Por favor, senhoras e senhores, não vamos envolver Tiririca nesse mar de camisinhas.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Vamos desinfetar a Daniela
O verão chegou ontem. Digo e provo. Pelo menos aqui, em Floripa, foi ontem que ele deu as caras. E era por volta das 17h. Como é que posso provar? Ora, ora, com meu testemunho. Acostumado que fui, desde pequeno, com as quentes águas do meu Nordeste, só tomo banho de mar em Florianópolis quando a estação do calor aparece. No último verão catarinense, que durou cerca de 20 dias, entrei na água salgada pelo menos em 15 deles. E ontem, paisano, após minha caminhada vespertina pela praia da Daniela, o calor me empurrou para a ponta do atlântico do balneário. É bem verdade que a água não tava quentinha, mas deu para o gasto. O verão chegara.
O que não deu para o gasto foi o furdunço em que se transformou a areia do lugar. Há poucos anos – cinco é um bom parâmetro – eu costumava dar minhas corridinhas por entre as famílias que frequentavam o pedacinho do céu entre os mortais. Ontem, no primeiro dia do meu verão, mal pudemos caminhar. Em determinados momentos, tivemos que fazer fila indiana para passar por entre os guarda-sóis, barracas e barracões. Sem falar nos vendedores ambulantes, nos banhistas e nos solistas. Por “solistas” entenda aquelas pessoas que, fascinadas com o fulgor do astro-rei, espicham-se sobre toalhas, cadeiras ou coisas do gênero e põem-se a torrar. Eu, Denise – minha mulher – e meu sobrinho Thiago, tínhamos que cuidar para não atropelar as tantas bundas que dominavam a paisagem. É de admirar o quanto as senhoras não cuidam dos seus traseiros. O passante é que precisa ficar atento para não causar uma crise no patrimônio alheio.
Uma coisa, entretanto, Fez-me mudar o humor: a quantidade de maconheiro na areia. Digo “maconheiro” porque sei que os usuários da marijuana detestam de serem chamados assim. É como o tomador de álcool; podem xingá-lo de qualquer coisa, menos de bêbado. Teve uma hora em que fui obrigado a respirar a catinga da droga. Os clientes dos traficantes aproveitam o descaso policial e fazem seus cigarros na frente de todo mundo. Você não verá, paisano, um único policial na praia. Traficantes e usuários aviltam a lei e o direito dos demais cidadãos na maior cara de pau. Vou mandar emails para as igrejas evangélicas pedindo que elas venham espantar os maledetos. Ah, sim, bastará um grupo de jovens cantando, tocando violão e falando de Cristo. Os maconheiros não suportam religião. Será a campanha “Vamos desinfetar a Daniela”.
PS: Antes que me incomodem, o "desinfetar" não se refere às pessoas, mas ao mal cheiro provocado pela fumaça.
O que não deu para o gasto foi o furdunço em que se transformou a areia do lugar. Há poucos anos – cinco é um bom parâmetro – eu costumava dar minhas corridinhas por entre as famílias que frequentavam o pedacinho do céu entre os mortais. Ontem, no primeiro dia do meu verão, mal pudemos caminhar. Em determinados momentos, tivemos que fazer fila indiana para passar por entre os guarda-sóis, barracas e barracões. Sem falar nos vendedores ambulantes, nos banhistas e nos solistas. Por “solistas” entenda aquelas pessoas que, fascinadas com o fulgor do astro-rei, espicham-se sobre toalhas, cadeiras ou coisas do gênero e põem-se a torrar. Eu, Denise – minha mulher – e meu sobrinho Thiago, tínhamos que cuidar para não atropelar as tantas bundas que dominavam a paisagem. É de admirar o quanto as senhoras não cuidam dos seus traseiros. O passante é que precisa ficar atento para não causar uma crise no patrimônio alheio.
Uma coisa, entretanto, Fez-me mudar o humor: a quantidade de maconheiro na areia. Digo “maconheiro” porque sei que os usuários da marijuana detestam de serem chamados assim. É como o tomador de álcool; podem xingá-lo de qualquer coisa, menos de bêbado. Teve uma hora em que fui obrigado a respirar a catinga da droga. Os clientes dos traficantes aproveitam o descaso policial e fazem seus cigarros na frente de todo mundo. Você não verá, paisano, um único policial na praia. Traficantes e usuários aviltam a lei e o direito dos demais cidadãos na maior cara de pau. Vou mandar emails para as igrejas evangélicas pedindo que elas venham espantar os maledetos. Ah, sim, bastará um grupo de jovens cantando, tocando violão e falando de Cristo. Os maconheiros não suportam religião. Será a campanha “Vamos desinfetar a Daniela”.
PS: Antes que me incomodem, o "desinfetar" não se refere às pessoas, mas ao mal cheiro provocado pela fumaça.
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sábado, 25 de dezembro de 2010
Fora, filho de Deus
Hoje é Natal. E com a data, vieram os presentes. Comércio em alta. O povo nas ruas. Mas acima de tudo, felicidade. Eu, por exemplo, ganhei um binóculo potentíssimo, um vinho do Porto e um violão de 12 cordas. Saí no lucro. Por mim, podemos comemorar a festa de Noel de dois em dois meses. Meu sobrinho Tiago foi quem trouxe o instrumento musical. “Achei que combinava com o sítio e comprei para o senhor”, disse-me. Ganhei, certamente, uns quilinhos a mais, depois da comilança que a festa pede. As comemorações pelo aniversário do bom velhinho estão a cada ano mais animadas. Salve o dia 25 de dezembro. O abençoado dia em que na Groelândia, na Polônia ou em outra geladeira qualquer, nasceu Papai Noel.
É bem verdade que alguns religiosos tentaram, mas não conseguiram, colocar o menino Jesus no meio dessa parada. O tempo mostrou que a data era, de fato, do colorado barbudo. Cristo é, sabidamente, carta fora do baralho. Também não tinha como ser diferente. Aquele discurso que o Jovem Galileu apregoou, de fé, amor e simplicidade, não tem nada a ver com o espírito natalino. Ora, ora, o Natal exige dinheiro, dívida e diversão. Jantares com mesas fartas, bebidas e, mais tarde, uma balada. Se der, depois um motelzinho. Fora, filho de Deus, na festa de Noel você não tem lugar.
É bem verdade que alguns religiosos tentaram, mas não conseguiram, colocar o menino Jesus no meio dessa parada. O tempo mostrou que a data era, de fato, do colorado barbudo. Cristo é, sabidamente, carta fora do baralho. Também não tinha como ser diferente. Aquele discurso que o Jovem Galileu apregoou, de fé, amor e simplicidade, não tem nada a ver com o espírito natalino. Ora, ora, o Natal exige dinheiro, dívida e diversão. Jantares com mesas fartas, bebidas e, mais tarde, uma balada. Se der, depois um motelzinho. Fora, filho de Deus, na festa de Noel você não tem lugar.
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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Neymar, o homem do ano
Já percebeu, amizade, como as pessoas gostam de frases bonitas? "É melhor só do que mal acompanhado", por exemplo, todo mundo repete, embora muitas vezes estejam rodeados de praguinhas. "Melhor é servir do que ser servido", é outra pérola que estou cansado de escutar vindo da boca de pessoas que são incapazes de dar um pão a um doido. Ontem minha mulher ganhou um livreto com essas preciosidades. Enquanto eu jantava ela ia lendo cada uma. Confúcio, Gandhi e Dostoiévsk foram citados. Sinceramente, achei uma baboseira. Discordei de quase todas, ou pelo menos remendei algumas. Dane-se o que eu acho das idiotices contidas no exemplar, o importante é que vende pra caramba. E se dá dinheiro, paisano, é sucesso. Como Neymar, jogador de futebol do Santos Futebol Clube. O rapazinho foi eleito por uma famosa revista como sendo o homem do ano. Quando vi a notícia achei um disparate. Ora, o rapaz é, sabidamente, mal-educado. O treinador do Santos que ousou repreender o mocinho foi demitido sumariamente. Porcarias de frases, porcarias de eleições.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
A raposa, a sacanagem e o lobo
Pode me chamar de grosso, pode me chamar de babaca e até de idiota, como já fizeram alguns anônimos, mas não me chame de ignorante, porque um leitor contumaz não merece tal pecha. E desde minha mais tenra idade entendi o que significava a expressão “raposa cuidando do galinheiro”. Não precisei ler A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Muito menos A República de Platão. Pornopolítica, de Arnaldo Jabor, nem sonhava em ser publicado. A palavra sacanagem ainda era considerada um palavrão e indigna de ser pronunciada por gente de bem. Os artistas da banda baiana Leva Nóiz talvez nem fossem nascidos; nesse caso, o hit “a sacanagem é comigo, é comigo mesmo”, com suas duas notas musicais – sol menor e ré – não embalava os festeiros da boa terra. Uma coisa é certa, o governador eleito de Santa Catarina, Raimundo Colombo, já “sartava” nesse mundo de meu Deus. Só não sei se, como eu, ele conhecia a famosa frase. Explico.
Na última segunda-feira, o eleito divulgou alguns nomes que comporão seu governo. Entre eles, um chamou-me atenção. Trata-se de Dalmo Claro de Oliveira, presidente da Federação das Unimeds de Santa Catarina desde 1999. Dalmo será o secretário de saúde do Estado natal de Guga. E eu pergunto: “Colombo, meu filho, o que é isso?”. Ora, ora, paisano, a Unimed é uma empresa. O objetivo de uma empresa é o lucro. E como ela obtém o tal lucro? Aumentando o seu quadro de associados, lógico. Pensando bem, Colombo tem razão. Dalmo poderá, com o mínimo de esforço, resolver o problema da saúde de Santa Catarina. Já imaginou, simpatia, o povo adquire plano de saúde da Unimed e desafoga os hospitais públicos. Fantástica solução, Colombo. Mesmo assim, para muitos, isso não passa de uma manifestação clara da sabedoria popular: “É a raposa cuidando do galinheiro”, advertiu um amigo meu profissional de saúde.
Teve uma amiga minha que me perguntou: “E se o Dalmo entregar o cargo na Unimed?”. Aí eu acho que o ditado popular vai mudar para “lobo em pele de cordeiro”. É mole ou quer mais?
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
A dor do bad boy
Gente, o corno precisa ser respeitado. E quero, antes de mais nada, fazer uma confissão: hoje não observei o direito de um chifrudo. Eu estava pilotando minha motoca quando escutei um barulho agudo, como se fosse de um liquidificador amplificado. E eu, que ultrapassava um caminhão, mal tive tempo de olhar de lado. Veio uma moto em altíssima velocidade, meteu-se entre eu e o cargueiro e zummm. Freou mais à frente, fez novas e arriscadas ultrapassagens e sumiu. Abri o bocão e disse-lhe uns desaforos. Arrependi-me, entretanto. Lógico; fiz errado. Errado, não, erradíssimo. O cara para dirigir daquele jeito, todo imprudente, só sendo galhudo. E o coitado não estava nem aí com a segurança dele. Ele só se preocupava, não tenho dúvida, com o flagrante que queria dar. De certo ele foi avisado que a mulher estava com o Ricardão e saiu em disparada para pegá-los com a boca na botija.
Aquele motoqueiro, paisano, tinha o direito sagrado e venerado que todo cabrão tem. O direito de esquecer o mundo e vingar o enfeite que colocaram na cabeça dele. Nesse caso não importa se ele está de moto, de carro ou de bicicleta. Vai dirigir tresloucadamente pondo em risco a vida dos demais guiadores. Precisamos, simpatia, compreender o momento do galhudo. Portanto, faço um pedido, quando você vir um bobão “costurando” no trânsito, tente entender. É a galhada cobrando o preço. E falo assim porque um policial amigo meu parou um Audi-A3 fazendo manobras perigosas e ouviu do rapaz a seguinte justificativa: “Seu guarda, o senhor não me leve a mal. Uma colega minha acabou de me ligar dizendo que minha namorada está na praia com outro. Eu quero pegar os dois, seu guarda”. O militar, sensibilizado com a dor que escorria dos olhos do bad boy, não aplicou a multa, embora tenha pedido para ele maneirar no acelerador.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Eu devia estar contente
O telefone tocou novamente. À semelhança da canção de Jorge Bem, atendi e não era o meu amor. “Alô, é o senhor Gilead Maurício?”, perguntou a voz do outro lado. “Sim, pode falar”, fui educado. Digo fui educado porque o certo era ele se identificar primeiro e depois indagar se era, de fato, eu. Tudo bem, prossigamos com o telefonema. “Estamos ligando para confirmar o exame de rotina com doutora Fulana de Tal, conforme já havíamos agendado com o senhor”, lembrou-me a voz. “Ok, estarei lá”, tranqüilizei-a. Fui, conforme o combinado.
Cheguei ao consultório e fui atendido por um médico que fez de tudo para que eu me sentisse confortável. “Agora vamos verificar sua pressão”, disse após alguns minutos de puerilidades. Depois verificou peso, altura e auscultou meu bombeador de sangue. “O senhor é um jovem senhor muito saudável, seu Gilead”, constatou e repassou-me à médica Fulana de Tal. Eu acabara de passar pela fase um. Nem quero falar sobre a fase dois. Até porque, foi tudo tranqüilo. A frase dita pelo primeiro médico fora suficiente para atingir meu espírito, alma e ego. “Quer dizer que eu sou um jovem senhor saudável?!”, murmurei sob o capacete, enquanto acelerava a motocicleta.
Toda a realidade do tempo desabou sobre minha negra cabeleira. Tempo que é mais forte do que a morte. Mais duro do que o ciúme. Mais insensível do que um filho – e não importa de que filho se trate, nem de quem. Quando cheguei em casa, olhei uma foto minha aos trinta anos. Há quem diga que envelhecemos mais e pior nos retratos. “É, talvez o médico tenha razão; sou um jovem senhor”, constatou um cara até então desconhecido que olhou diretamente nos meus olhos pelo espelho do banheiro. Não era aquele mesmo que eu acabara de ver em cima de uma potente motocicleta dentro de um porta-retratos. Tava longe de ser aquele moleque que corria atrás de uma bola de meia nos anos 1970. Não, era um senhor; jovem, mas senhor.
Eu devia estar contente, como cantou Raul seixas. Afinal, ligam-me para agendar um check-up. Afinal, estou saudável. Afinal posso pilotar minha motocicleta. Afinal, consigo jogar meu futebolzinho duas vezes por semana. Afinal posso me refestelar com páginas de autores consagrados. Mas não estou. Estou desconfiado. Ressalto que não estar contente não significa estar triste. Assim como não torcer pelo Vasco não significa ser flamenguista. Ainda bem que no dia 11 de janeiro vou a Natal passar três semanas. Verei meus pais e verei minha linda e adorável Gabriela – meu presente dado por Deus. Quem sabe se até lá o tempo não desfaz essa má impressão que me causou.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Um, dois, feijão com arroz
Phaseolus. Esse é o cara. Ontem e hoje, só deu ele na mídia. Tá todo mundo querendo saber porque o brasileiro deixou o danadinho de lado. Chamei o rapaz de danadinho embora ele tenha diversos apelidos. Na Bahia, por exemplo, ele atende pelo singelo nome de Fradinho. Nas colônias japonesas de São Paulo é conhecido como Azuki. Nas Minas Gerais recebe a alcunha de Jalo. No Pantanal, onde o homem tem chifre na mão – o berrante, moço -, ele é carinhosamente chamado de Rosinha. No meu querido Rio Grande do Norte, desde Natal até Pau-dos-Ferros, ele é plantado, colhido e comido como sendo apenas Verde. Eu particularmente prefiro o preto.
Já sabe de quem estou falando, não é? Isso mesmo, do Feijão. Com efe maiúsculo, sim senhor. Vamos combinar, você nunca ouviu, nem ouvirá, um brasileiro nato chegar em uma banca de feira e pedir: “Por favor, dê-me um quilo de phaseolus”. Nao. O comum é o camarada olhar para o vendedor e dizer: “Me dá um quilo de ‘fejão’ aí”. E o feijão está em alta. Por isso a imprensa tupiniquim só fala nele. Em alta e em baixa, ao mesmo tempo. Em alta porque tá nas telinhas, em baixa porque tá sendo pouco vendido. Aí vem um Zé Mané metido a jornalista e informa: “Feijão perde espaço na mesa dos brasileiros”. Como diz meu ensinador Gabriel Garcia Marquez, “notícia oficial com manchetes excessivas e parcas em detalhes”. Ouvi e li muitas justificativas sobre a queda no consumo por parte dos meus compatriotas. Teimoso feito menino chorão, não concordei com elas e resolvi publicar a minha.
Em 2004 a Embrapa informou que os países em desenvolvimento são responsáveis por 86,7% do consumo do phaseolus. Ôpa, já é um indicativo. Nosso gigante adormecido despertou, atravessou a última crise econômica cantando “eu tava à toa na vida o meu amor me chamou pra ver a banda passar tocando coisas de amor”. Ora, ora, simpatia, quem já viu um país que quer ser chamdo de desenvolvido comer feijão!? Em compensação o consumo da cerveja aumentou. Lógico, os maiores consumidores per capta da bebida encontram-se no Velho Continente. E para parecermos com eles, resolvemos “encher a cara”. A culpa deve ser do Lula, que insistiu durante oito anos para deixarmos de ser subdesenvolvidos. Voltando ao feijão, acredito mesmo que o consumo caiu devido aos altos preços. A propósito, você tem visto alguma mãe ninar o bebê com aquela musiquinha que dizia “um dois, feijão com arroz; três, quatro, feijão no prato”? É, meu chapa, os tempos são outros.
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Do Haiti para a Argélia
Outro dia eu estava em uma fila. Não vou dizer onde e nem fazendo o quê. O fato é que tinha uma senhora na minha frente que não parava de falar. De tudo sabia. Era, pelo que percebi, mais sabida do que o ancião de noventa anos retratado por Gabriel Garcia Marquez no livro Memórias de Minhas Putas Tristes. E tava cheia da grana, percebi no blá-blá-blá. Lá pelas tantas a beldade saiu-se com esta:
- O Brasil não tem mais jeito. Vou mandar meu filhos para a Europa. Quero que eles sejam educados lá, não em um país como o nosso.
Todos prestavam atenção. Foi aí que entrei no papo.
- E para qual país eles vão?
- Para a França. É outro mundo.
Não sou dos mais ignorantes em história e resolvi instigar a bonitófira.
- Nesse caso seria bom que a senhora mandasse eles antes para o Haiti e depois para a Argélia. Assim ficarão sabendo quem são, de fato, os franceses.
Ora, falei aquilo porque não suporto esse discurso ultrapassado que alguns provincianos teimam em proferir. O escritor Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-lata. Segundo ele trata-se de uma inferioridade em que o brasileiro se coloca diante do resto do mundo. A mulher ficou sem saber o que dizer, provavelmente por não conhecer patavinas sobre colonização. Emudecida, sacou a mixaria e sumiu.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
O peso dos chifres
Ontem, no fim do dia, dei de cara com a falta de educação. Com ela estavam a grosseria, a estupidez e a arrogância. A maldita devia ter um metro e setenta de altura. Uns 55 anos. Camisa gola pólo, bermudão e sandálias de couro. Pelo jeito, era corno. E se não era, espero que se torne; ou que o tornem. Quem conhece Florianópolis, sabe que a chuva e o vento sul formam uma dupla de fazer qualquer pessoa chorar em alemão. Parei em um supermercado e o estacionamento estava lotado. Superlotado, no caso. No lado de fora, as poucas vagas encontravam-se devidamente ocupadas. Nem todas, na verdade. Tinha uma, para deficiente, livre. Um símbolo enorme, daqueles que até um cego vê, indicava que a área era exclusiva para cadeirante.
Eu parei o carro, liguei o alerta e fiquei esperando uma brecha, coberta ou não. E a vaga para deficiente, lá. Uma senhora estacionou o possante. Viu a pintura indicativa de exclusividade e deu ré. Outros dois veículos fizeram o mesmo. Foi aí que ela apareceu. Ela, meu Deus do céu, a falta de educação. Manobrou o símbolo de poder, desligou o motor e desceu na maior cara de pau. A cobertura poupou-lhe da chuvarada. Alertei um funcionário do estabelecimento, mas o moço esquivou-se: “Ah, meu patrão, se eu for falar ele vai me esculachar”. Perguntei-lhe se aquela atitude era comum. “Muito”, respondeu, “eu até reclamava, mas levei tanto grito que prefiro não dizer mais nada. Eles tratam a gente como se nós fosse cachorro”. Um motorista saiu e o rapaz indicou-me a vaga.
Juro que tive vontade de entrar no mercado, pegar aquele camarada pelo colarinho e dá-lhe de sandália na bunda, como se faz com menino ruim. Depois mandá-lo embarcar na carroça e dizer: “Só saia de casa daqui a uma semana”. Quando cheguei dentro da loja, depois de quase quinze minutos, o bonitão já estava pagando as latinhas de cerveja e mais algumas porcarias. Dei uma olhada acintosa para ele esperando que me perguntasse o motivo da espiada. Eu diria que estava procurando a deficiência física dele. Ele pareceu perceber minha indignação e baixou a cabeça. Ou pode ter sido o peso das guampas.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Isso é coisa de filho
Não sei o que houve com Aguinaldo – chamemos assim o pobre homem. Fazia um pouco mais de um ano que eu não via o cidadão. Não, ele não estava preso. Proprietário de um restaurante às margens de uma rodovia que rasga Santa Catarina, o camarada está todos os dias no front. Ressalto que ele adora o que faz; pelo menos foi o que me assegurou quando o conheci há três anos. Por essas coisas que nem Freud explica, fiquei um ano sem almoçar no estabelecimento comercial do meu amigo. Na semana passada, por volta do meio dia, vindo para Florianópolis, decidi saborear uma costela com Aguinaldo. É que sempre que vou lá, ele faz-me companhia. Senta, pergunta pela vida, conta a dele, lamenta os maus resultados do Vasco da Gama e completa: “Nunca mais vou me candidatar”. De tanto ele afirmar isso, acho que ele sai para vereador nas próximas eleições. Da última vez foi diferente.
Aguinaldo tem cinqüenta anos, aproximadamente 1,70m, cabelo ligeiramente grisalho, bigode no mesmo tom da cabeleira e uma farta conversa. Era, pelo menos, assim. “O que aconteceu com esse homem, meu Deus”, exclamei para mim mesmo. Em um ano ele envelheceu sete, no mínimo. Sabe aquele choque que você sente quando vai ao hospital visitar um amigo que acabou de passar por um tratamento e perdeu dez quilos? Aguinaldo parecia ter jogado cal na cabeça; branca, branca. O cansaço saltava-lhe a face. Até a fala, antes tão vibrante, limitou-se a um balbucio. Nem comentou sobre o escrete cruz-maltino, que neste ano conseguiu não voltar para a Série B. Eu, que nunca tinha perguntado sobre a família do comerciante, imaginei: “Isso é coisa de filho”. Sim, porque para destruir uma pessoa daquele jeito, só um desgraçado de um filho ingrato. Vamos combinar, os tipos de filhos que são fabricados hoje em dia é uma vergonha. E um mísero herdeiro, quando ensandecido, poderia, sim, ter causado tamanho estrago no catarinense em questão.
Coitado do Aguinaldo. Pensei em sugerir que ele voltasse à política, mas hesitei. Era melhor não incentivar. Vai que ele resolve se alegrar a custa do erário? “Aparece, Gilead”, pediu enquanto eu acionava o motor da motocicleta. “Claro, meu amigo”, respondi tentando enxergar o Aguinaldo do ano passado. Será que é problema de saúde? Ou financeiro?! Não, ele até contratara um gerente para dividir a carga. Não sei o que houve com o Aguinaldo.
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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Preconceito, não aceite
Para quem acha que o preconceito é coisa bacana, eis um belíssimo exemplo do que ele pode fazer com um ser humano.
"Os escravos foram alçados ao mesmo nível dos cristãos, o que é contrário aos desígnios divinos e à ordem da natureza, que dividiu as raças de acordo com a cor da pele. Para qualquer cristão honesto, aquilo equivalia a ser posto de joelhos e ter os braços presos por correntes". Sabe quem escreveu a frase acima? Anna Steenkamp. Em que ano? 1838.
"Num determinado momento, surgiu na tela um homem branco que se aproximou de um negro e estendeu-lhe a mão. O filme estava sendo exibido na Universidade Orange, exclusiva para estudantes brancos. Entre vaias e gritos de protestos, todos os estudantes se levantaram e saíram da sala. A projeção foi interrompida. Será que a nossa censura não poderia ser mais atenta, evitando que cenas tão infames fossem exibidas em telas de cinemas?". Sabe quem escreveu essa besteira? Um leitor do jornal Die Burger.
"Primeiro, deitaram-me numa maca de aço, ligaram a corrente elétrica e eu comecei a me contorcer em convulsões. Atiraram água gelada em mim, para que eu recuperasse a consciência. Depois, dois policiais penduraram-me no teto, de cabeça para baixo, e dois outros se puseram a chutar a minha cabeça, como se ela fosse uma bola. Não sei o que se passou em seguida". De quem é esse depoimento? De Sikave Mashiklehele, no processo de trinta africanos em Krosdorpo.
"Os escravos foram alçados ao mesmo nível dos cristãos, o que é contrário aos desígnios divinos e à ordem da natureza, que dividiu as raças de acordo com a cor da pele. Para qualquer cristão honesto, aquilo equivalia a ser posto de joelhos e ter os braços presos por correntes". Sabe quem escreveu a frase acima? Anna Steenkamp. Em que ano? 1838.
"Num determinado momento, surgiu na tela um homem branco que se aproximou de um negro e estendeu-lhe a mão. O filme estava sendo exibido na Universidade Orange, exclusiva para estudantes brancos. Entre vaias e gritos de protestos, todos os estudantes se levantaram e saíram da sala. A projeção foi interrompida. Será que a nossa censura não poderia ser mais atenta, evitando que cenas tão infames fossem exibidas em telas de cinemas?". Sabe quem escreveu essa besteira? Um leitor do jornal Die Burger.
"Primeiro, deitaram-me numa maca de aço, ligaram a corrente elétrica e eu comecei a me contorcer em convulsões. Atiraram água gelada em mim, para que eu recuperasse a consciência. Depois, dois policiais penduraram-me no teto, de cabeça para baixo, e dois outros se puseram a chutar a minha cabeça, como se ela fosse uma bola. Não sei o que se passou em seguida". De quem é esse depoimento? De Sikave Mashiklehele, no processo de trinta africanos em Krosdorpo.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Leitura para nobres
Tiririca voltou à tona. Deve estar adorando. Venhamos e convenhamos, estar na mídia é tudo o que um político quer. A imprensa está para o eleito como o palco está para o palhaço. É ali que ele deita e rola; literalmente. Tiririca, além de palhaço, foi elegido pelo povo a deputado. E se foi pelo povo, ganhou nas urnas, voto direto. Verdade seja dita: nem quando se apresentava em “horário povo” da Record ele foi tão visto. Chamo de horário povo o que muitos denominam horário nobre. Cá entre nós, esse papo de nobreza é coisa de 1808. Pelo menos para a gente, republicanos desde 1889. Se bem que tem um monte de abobados que adoram falar em nobreza. Horário nobre, bairro nobre e até atitude nobre. Já percebeu, simpatia, como muitas vezes elogiamos uma boa ação: “Fulano teve uma atitude muito nobre”. É como se educação fosse coisa palaciana. Hummm.
Há quem concorde com a ideia do marechal Deodoro da Fonseca de que “República no Brasil é desgraça completa”. Para o proclamador da república, por increça que parível, a nação canarinho precisava de educação para sair do imperialismo para a república. Conheço centenas de pessoas, colegas minhas, que pensam da mesma maneira. Calma, calma, não estou dizendo que sou contra nem a favor. Sei que precisamos de educação. Sou favorável às instituições de ensino superior. Tanto sou que até hoje fico indignado com o STF por ter desobrigado o diploma para quem quiser exercer a função de jornalista. Só não entendo esses meus colegas porque eles brigam pela democracia republicana e fazem propaganda monárquica. Ou chamar de nobre tudo que é bom não é uma maneira de exaltação a monarquia?
O fato é que Tiririca voltou. E vem um camarada dizer que o cearense sabe ler, mas não é capaz de entender um texto. Caro amigo, caríssima amiga, quantos dos nossos políticos são capazes de compreender um texto? Dá um Saramago para cada parlamentar ler e dois dias depois faz um debate para ver o que eles apreenderam da obra! Ora bolas, se os requisitos para se candidatar é saber ler, ter dinheiro para comprar votos e cara de pau para mentir, nossos homens públicos – salvo raras exceções – os cumprem. Não importa se sabe ler um carta infantil ou um Pablo Neruda; não importa se a origem do dinheiro é lícita ou enlameada; não importa se a mentira é verossímil ou deslavada. O que vale é se eleger, não importa como e nem quem. O povo que se dane. Ah, nobreza útil, ah, nobreza inútil.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Noel e o Fluminense
O Natal está aí. Não tenho como fugir do velhinho. O sacudo mascote do Internacional chegou com força. Ressurgiu do escritório publicitário onde passa o ano inteiro criando estratégias para fazer os mortais se endividarem. E nisso o malfado é fera. Ora, muito antes - e bota antes nisso – dos cientistas clonarem a ovelha Dolly, o aposentado já fazia suas aparições simultâneas nos continentes. E qual era a técnica usada por ele? A clonagem. Na áfrica, onde a população é sabidamente negra, ele aparece com a brancura dos povos “superiores”. Na América Latina não importa se os moradores são desdentados ou moram em favelas, Noel se apresenta com um sorriso de quem acabou de utilizar a mais moderna técnica de clareamento dental. Até no Oriente Médioo danado do velhinho tem a audácia de marcar presença. Tenho certeza que foi o safado do Noel quem inspirou os cientistas a entrarem pelo caminho da clonagem.
Eu disse que Noel foi audacioso em dar as caras no Oriente Médio porque até um estudante universitário brasileiro sabe que foi lá que Jesus Cristo nasceu. E, venhamos e convenhamos, se o Natal é para comemorarmos o nascimento do menino-Deus, pelo menos no Médio Oriente Noel tinha que ser desmascarado. Não, ninguém ousa enfrentar o alvirrubro. Desconfio que ele tem parceria com a CIA, com a KGB – se é que ela ainda existe – e com os principais serviços de espionagem do mundo. Sem falar na relação comercial que o safado mantém com federação mundial do comércio. Há quem diga, embora eu tenha sérias dúvidas, que o Vaticano não abre o jogo e conta a verdade sobre Noel porque recebe uma comissão por cada milhão de dólares comercializados nas festas natalinas.
Eu, na minha insignificância, fiz, e faço, alguns protestos. Insisto em berrar que Papai Noel é uma artimanha capitalista para fazer os bobões gastarem o dinheiro que têm e o que ainda vão ganhar. Pouco adianta. Meu discurso formiguinha não vai um metro a diante. Hoje cedo, parei em um semáforo e se aproximou de mim um mendigo travestido de Papai Noel. Fiquei na dúvida. Será que era ele mesmo? Bem, depois que o Fluminense foi campeão brasileiro, tudo pode acontecer, até Noel pedir moedas.
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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
O sabor das cores
Verde limão, azul calcinha, rosa pink, amarelo ouro e branco. Pense numa combinação digna de Tiririca. Assim eles passaram diante dos meus olhos. Ninguém me disse, eu vi. Vi com esses meus observadores que verão, domingo, o Fluminense ser campeão brasileiro de futebol. Calmos, serenos e tranquilos – se bem que acho esses três adjetivos a mesma coisa. Aquela infusão de cores do tipo mamãe não me perca na neblina gritaram exigindo minha atenção. E eu não me fiz de rogado. Não dei uma de político pós- campanha. Não, dei-lhes a devida atenção. Atenção mais do que merecida, afinal não é todo dia que podemos ver umas beldades daquelas desfilando em via pública. Parei.
Para ser sincero, eu já estava parado quando eles apareceram. E parado fiquei. Parado feito jumento quando embirra. E por falar nos quadrúpedes, ontem ouvi mais uma falácia própria dos ignorantes. Estava esse babaca aqui em um jantar, quando um colega afirmou que os nordestinos comiam carne de cavalo. Eu, cheio de delicadeza, fui direto ao escutador de novela do camarada.
- Em qual cidade do nordeste você comeu cavalo, animal?
- Não, eu não comi, Gile. - Me falaram.
- E quem foi o jumento que falou tal asneira? – Questionei tirando logo a possibilidade que ele tinha de dizer que foi um parente, um amigo ou alguma outra pessoa do seu círculo íntimo.
- Nem lembro, acho que eu era muito novo. Devia ter uns 15 anos na época. – Respondeu tentando, sem perceber, jogar a informação para um tempo remoto que não merece credibilidade.
- Quem vai pela cabeça dos outro é piolho, meu amigo. Aonde já se viu!, nordestino comendo cavalo!?
Voltando à festa das cores, fiquei tão embasbacado que nem percebi o sinal ficar verde. Continuei saboreando o par de tênis depois que ele cruzou a faixa de pedestre.
Para ser sincero, eu já estava parado quando eles apareceram. E parado fiquei. Parado feito jumento quando embirra. E por falar nos quadrúpedes, ontem ouvi mais uma falácia própria dos ignorantes. Estava esse babaca aqui em um jantar, quando um colega afirmou que os nordestinos comiam carne de cavalo. Eu, cheio de delicadeza, fui direto ao escutador de novela do camarada.
- Em qual cidade do nordeste você comeu cavalo, animal?
- Não, eu não comi, Gile. - Me falaram.
- E quem foi o jumento que falou tal asneira? – Questionei tirando logo a possibilidade que ele tinha de dizer que foi um parente, um amigo ou alguma outra pessoa do seu círculo íntimo.
- Nem lembro, acho que eu era muito novo. Devia ter uns 15 anos na época. – Respondeu tentando, sem perceber, jogar a informação para um tempo remoto que não merece credibilidade.
- Quem vai pela cabeça dos outro é piolho, meu amigo. Aonde já se viu!, nordestino comendo cavalo!?
Voltando à festa das cores, fiquei tão embasbacado que nem percebi o sinal ficar verde. Continuei saboreando o par de tênis depois que ele cruzou a faixa de pedestre.
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