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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Do Haiti para a Argélia

          Outro dia eu estava em uma fila. Não vou dizer onde e nem fazendo o quê. O fato é que tinha uma senhora na minha frente que não parava de falar. De tudo sabia. Era, pelo que percebi, mais sabida do que o ancião de noventa anos retratado por Gabriel Garcia Marquez no livro Memórias de Minhas Putas Tristes. E tava cheia da grana, percebi no blá-blá-blá. Lá pelas tantas a beldade saiu-se com esta:

- O Brasil não tem mais jeito. Vou mandar meu filhos para a Europa. Quero que eles sejam educados lá, não em um país como o nosso.

          Todos prestavam atenção. Foi aí que entrei no papo.

- E para qual país eles vão?

- Para a França. É outro mundo.

         Não sou dos mais ignorantes em história e resolvi instigar a bonitófira.

- Nesse caso seria bom que a senhora mandasse eles antes para o Haiti e depois para a Argélia. Assim ficarão sabendo quem são, de fato, os franceses.

         Ora, falei aquilo porque não suporto esse discurso ultrapassado que alguns provincianos teimam em proferir. O escritor Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-lata. Segundo ele trata-se de uma inferioridade em que o brasileiro se coloca diante do resto do mundo. A mulher ficou sem saber o que dizer, provavelmente por não conhecer patavinas sobre colonização. Emudecida, sacou a mixaria e sumiu.

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