Outro dia eu estava em uma fila. Não vou dizer onde e nem fazendo o quê. O fato é que tinha uma senhora na minha frente que não parava de falar. De tudo sabia. Era, pelo que percebi, mais sabida do que o ancião de noventa anos retratado por Gabriel Garcia Marquez no livro Memórias de Minhas Putas Tristes. E tava cheia da grana, percebi no blá-blá-blá. Lá pelas tantas a beldade saiu-se com esta:
- O Brasil não tem mais jeito. Vou mandar meu filhos para a Europa. Quero que eles sejam educados lá, não em um país como o nosso.
Todos prestavam atenção. Foi aí que entrei no papo.
- E para qual país eles vão?
- Para a França. É outro mundo.
Não sou dos mais ignorantes em história e resolvi instigar a bonitófira.
- Nesse caso seria bom que a senhora mandasse eles antes para o Haiti e depois para a Argélia. Assim ficarão sabendo quem são, de fato, os franceses.
Ora, falei aquilo porque não suporto esse discurso ultrapassado que alguns provincianos teimam em proferir. O escritor Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-lata. Segundo ele trata-se de uma inferioridade em que o brasileiro se coloca diante do resto do mundo. A mulher ficou sem saber o que dizer, provavelmente por não conhecer patavinas sobre colonização. Emudecida, sacou a mixaria e sumiu.
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