Passou em disparada. Não devia ter mais do que cinco anos. Descaço, sem camisa, usava apenas uma sunga verde. A boca aberta só fazia berrar. Parecia ter sido predestinado a ser tenor. Até agora, o choro do danado reverbera em meu escutador de forró. Dez segundos depois, apareceu a mãe. Na mão direita, alguns brinquedos daqueles que as crianças gostam de usar para fazer piscinas na areia da praia. Na esquerda, uma espécie de esteira, daquelas que as mulheres adoram estirar na areia para, em seguida, prostrarem-se e esquecerem-se do mundo. E só abrirem os olhos se passar outra mulher perto precisando de uma inspeção. Os olhos denunciavam sua ascendência asiática. Caminhava olhando para o chão. Não sei se para não cair ou de vergonha de não ter o mínimo controle sobre um filho tão pequeno. Quase pisando nos calcanhares da mulher, veio o pai. Aquele famoso barriga de nós todos. Assim como o guri, vestia apenas uma sunga. Em uma das mãos, uma cadeira de praia. Na outra, um isopor. Ainda ouvi ela grunhir: “Não grite, filho”. Foi um combustível nas cordas vocais do rebento.
Fui forçado a interromper minha leitura. Do alto da varanda, onde eu estava espichado na rede lendo Milan Kundera, fiquei observando a família de veranistas. “Poxa vida”, pensei, “são quase duas horas da tarde. E nesse caso o guri deve até ter razão em chorar tanto. Deve estar com fome”. Aí escutei o homem berrar: “Você vai ter que almoçar, sim. Caso contrário, não vai à tarde para a praia”. Aí minha dúvida aumentou. Não quanto ao chororô, mas quanto à cabeça baixa da senhora. “Afinal, ela anda cabisbaixa envergonhada com o comportamento do piá ou com o jeitão do marido?”. No fim da tarde, quando fui caminhar, vi o trio na beira do mar. A mulher esparramada na esteira e o pai reclamando com o menino: “Você já chupou três picolés; não vou comprar mais”. Ao que o pimpolho respondeu: “Se não me der eu vou embora”. Preferi não assistir o desfecho da contenda. Mais tarde, quando eu já estava em casa, eles regressaram. Os dois bebês de sunga e a senhora de maiô. Ê, verão.
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