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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Treinador do Flamengo conta com ajuda da arbitragem

          Silas é o novo treinador do time preto e vermelho do Rio de Janeiro. Nenhuma novidade. Enquanto concedia entrevista para a Rede Globo, ele assumiu, de cara, o papel da torcida do novo time: "A torcida do Flamengo ajuda o árbitro a tomar decisões em campo". Silas foi sincero. Disse o que todo brasileiro está cançado de saber e ver. Falta na área do Flamengo é sempre duvidosa. Na área do adversário é clara. Foi assim contra o Ceará no Maracanã. A equipe que consagrou Zico venceu com um pênalti inexistente. No último domingo o Guaraní teve que jogar muito para vencer a esquadra que tem como principal torcedor o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Gostei da postura de Silas. Ele tem consciência que a grande maioria dos árbitros prefere fazer a alegria dos rubronegros presentes nos estádios. Será que o ex-técnico do Grêmio de do Avaí dirá, na próxima entrevista, que conta com o tradicional e incondicional apoio da Globo? Parabéns, Silas. Você é o primeiro técnico que admite a mãozinha da arbitragem.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Gianecchine, mais sexy do que eu?

          Estou decepcionado. Não, estou arrasado. Eu e alguns amigos que tenho aqui em Floripa. Sábado, em nosso futebol para experientes, o desconsolo era geral. Nem meu amigo Simões, gaúcho velho da fronteira, comemorou os gols que fez, tamanho era o baixo astral do camarada. Pernambuco, a gentileza em forma de zagueiro, parece que teve contido o ímpeto em massagear as canelas do adversário com a sola da chuteira. Nem Ivan, o demolidor, teve seus momentos de fominhagem. Fez lá suas jogadas, gols e dribles. Tudo, entretanto, em nome da coletividade que exige o consagrado esporte bretão. Ivan era o retrato de um homem brasileiro aviltado em sua honra. Apesar do sol que presenteava a ilha de Santa Catarina, o campo na beira do mar parecia envolto em um manto enfumaçado. O manto da injúria.

          Os peladeiros corriam atrás da bola como se nunca a tivessem visto. É bem verdade que alguns, que não citarei o nome para não ser inconveniente, realmente não tem muita intimidade com a pelota. Todos, sem exceção, arrastavam-se na grama sintética. Nem Rivelino, que mais parece uma vuvuzela de tanto reclamar, abria a boca. Só para respirar, vale dizer. O apito do árbitro mais lembrava um miado de um gato triste que foi abandonado pele dono em uma noite chuvosa. E olhe, simpatia, que tem muita gente egoísta que compra um bichano para servir de companhia, e quando se desinteressa pelo felino, coloca-o dentro do carro, leva-o até um lugar distante e desfaz-se do coitado. Depois vai tomar cerveja como se não tivesse cometido um crime.

          Falando em gato, nós, os gatões amadurecidos pelo tempo – como o tempo passa, meu Deus! – estávamos todos cabisbaixos. Eu diria que até envergonhados. E abro meu coração para falar em nome de todos meus companheiros traumatizados. Um semanário tupiniquim elegeu o homem mais sexy do ano. Não é que o Reynaldo Gianecchine levou o título!? Como é que Moacir, o grande lateral da AABB, vai explicar um troço desses em casa? Gianecchine, que nem cabelo no peito tem? Que nem pode fazer cara de mal porque o rosto parece a bunda de um bebê! Venhamos e convenhamos, nós, os bonitões grisalhos do futebol fomos insultados em nossa macheza. Fomos boicotados pela revista. Aonde já se viu! Se a eleição tivesse ocorrido na beira do campo e com a participação do time dos coroas esse tal de Gianecchine não teria tido a menor chance.

          Mais sexy do que ele tem, além dos que já citei, Henrique, Barbieri, Sodré, Cesinha, e outros mal-acabados. Por isso o clima no futebol foi de enterro. Enterro da honra, da masculinidade e da moral. Ora, ora, perder para o Gianecchine.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Eita mesa maneira!

- Esta é maneira -, resmunguei.
- Então vais levar-, alegrou-se o vendedor.
- Não, é maneira -, argumentei.
- Ué, se é maneira, porque não levas? – admirou-se.
- Exatamente por isso. Se fosse pesada eu queria. Como é maneira, não me serve -, expliquei.
- E o que tem a ver maneira com pesada -, impacientou-se Betinho – era esse o nome dele.
- Maneira é antônimo de pesada -, justifiquei.
- Eu achava que maneira era uma coisa legal, entende, maneira -, surpreendeu-se o marceneiro. Em seguida perguntou: - Em que lugar do Brasil, maneira significa leve?
- No dicionário -, encerrei a conversa.

          Não dei as costas e fui embora. Betinho é um profissional que já fez vários trabalhos para mim. Continuei na marcenaria. Mas passamos a tratar de uma mesa que eu encomendara.

          Surpreende-me a capacidade de as pessoas mudarem o sentido de uma palavra. Essa não foi a primeira vez que tive dificuldade de ser entendido quando usei o vocábulo “maneira” como contrário a pesado. A justificativa é o sentido figurado que o termo adquiriu, como ocorreu, e ocorre, com tantos outros. Um belo dia alguém resolveu chamar o colega de “maneiro”. Juro por deus, não sei se era por falta de vocabulário ou pura folia. A moda pegou. Tornou-se gíria. Incorporou-se ao linguajar cotidiano. Nem um problema. Problema é quando cinco gírias substituem um dicionário. Tem certas palavras que mudaram totalmente de sentido. Umas até que ficaram bem. No tempo em que candeeiro dava choque, ladrão era uma pessoa mal-encarada, armado para matar e pobre. Não é mais assim. Se eu digo, por exemplo, que vi um ladrão, a maioria dos meus amigos me pergunta se entrevistei algum político. Pois é.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Segurança pública de Santa Catarina é um piada

        A segurança pública de Santa Catarina está em mãos não merece ser levada a sério. Porque, de fato, não é séria. Para dar alguns exemplos:

1 – O estupro de uma menor em Florianópolis: O filho de um delegado era um dos estupradores. Outro era filho do dono da RBS TV. Outro – que foi acobertado – filho de um ex-político. O delegado que estava responsável pelo caso correu para a televisão e defendeu os estupradores. Agora o ministério público vestiu a camisa da RBS e “legalizou” o estupro, desde que seja praticado por poderosos. Gercino Gomes Neto é o chefe do Ministério Público de Santa Catarina. Precisará de muita água sanitária para limpar o MPSC depois dessa. O chefe, a juíza e a promotora do caso, deram um jeitinho e livraram a cara dos delinquentes. Um nojo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Intolerância religiosa

          Um colega meu foi preso próximo as pirâmides do Egito no último dia 18. O que ele estava fazendo lá? Ele é representante de uma empresa de turismo egípcia. Estava com dois turistas. Sei que não é nada engraçado ficar sob custódia dos verdugos egípcios, mesmo assim usarei uma piada para explicar o acontecido.

          Duas horas da manhã. Toca o telefone. A voz apavorada no outro lado da linha suplica: - Oi, Arnaldo. Aqui é o Antenor. Fui preso, cara. Podes vir aqui me soltar? - Arnaldo, advogado criminalista, pergunta: - Por que te prenderam, rapaz? – Por nada, Arnaldo. Eu não fiz nada. – Arnaldo arremata: - Pois então não vou. Se estão prendendo quem não fez nada, é capaz de me prenderem também.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Filho comete crime e tem mãe como cúmplice

          Ele quebrou as regras de convívio. Fez o que não era permitido. Desrespeitou as normas que zelam pela boa ordem - e digo boa ordem porque tem certas ordens que de boa não tem nada. Causou um transtorno danado no ambiente onde mora. E, o que é mais grave, induziu a mãe ao crime. Logo Tereza, a coisa mais querida e angélica do lugar. Caiu na pilha do filho e palmilhou – como diriam os mais antigos – a senda do crime. E quando falo em crime deixo claro que é dentro de um conceito formal da palavra. Ela violou, de maneira culpável, a lei penal. Tereza, agora, é criminosa. E por quê? Porque acompanhou o filho no caminho da perdição. Com a palavra a defesa.

          - Senhoras e senhores, a Tereza não pode ser considerada culpada. Ela seguiu o que seu coração de mãe mandava fazer. Mosab, o filho, errou, não tenho dúvida. Mas uma mãe que sabe o que é um filho, que o abrigou na barriga durante meses, não o deixa nem quando ele envereda pela estrada do engano. Sim, engano. Até porque Mosab não infringiu a lei por mero prazer em desestabilizar o sistema. Quero me concentrar, entretanto, na defesa de Tereza. E apelo para você, que é mãe. Apelo também para os pais, que sabem do que uma mãe é capaz para proteger seus filhos. Apelo, por último, para você que é filho. Pense em quantas vezes tua mãe mentiu para teu pai, a fim de evitar que você levasse uma bela surra – bela no sentido figurado do termo. Não permitam, pelo amor de deus, que uma injustiça seja feita. Tereza não agiu dentro da razão.  Nem poderia. Raciocinou como mãe. Se é que mãe raciocina quando protege a cria.

          - Tenho absoluta convicção que Tereza não pensou em nenhum momento que estava cometendo um crime. Na hora em que viu Mosab passando por entre os fios de arame farpado que separavam as duas propriedades, teve a consciência alterada. Uma voz gritou na sua cabeça: Corre, Tereza, não deixa teu filho sozinho nessa roubada. E ela foi. Ao vencer os arames deixou alguns punhados de sua lã nas farpas. Sofreu. Enquanto Mosab saltitava nas terras vizinhas, Tereza ia de cabeça baixa. Não estava ali por prazer. Estava ali pelo coração. Coração de mãe. Peço que as coisas continuem como estão. Que eles não sejam vendidos. Que não seja colocado fio elétrico na cerca. Basta mais uma fiada de arame farpado. As outras ovelhas não merecem levar choque por um ato descuidado de Mosab.

          Não teve jeito. O juiz leu a sentença sob os olhares atentos: - Tereza e Mosab estão absolvidos. Não serão vendidos para servirem de churrasco. A cerca elétrica, entretanto, será instalada para evitar novos incidentes. Se o filho tentar passar pela cerca, levará um violento choque. Se a mãe tentar acompanhá-lo, por ser maior, o choque haverá de ser proporcional. Esta corte tem consciência da dificuldade que mães como a Tereza tem de educar seus filhos. Por esse motivo as cercas precisam coibir atitudes tresloucadas dos juvenis. Dou por encerrado o julgamento.

Abaixo, foto de Tereza com Mosab. Ela está de boca aberta, e ele sonolento depois de tanta malinagem.



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O laptop venceu a barroca

          Fiquei alguns dias sem escrever porque meu laptop deu tiuti. Adoro escrever e confesso que já estava com os dedos coçando. Você estranhou alguma palavra da minha primeira frase? Não? Laptop, sabe o que é? Tiuti, também? Entao, se eu disser que deletei alguns contatos da minha lista de emails, você entenderá perfeitamente a que estou me referindo? Quando criança, minha brincadeira preferida era jogar barroca. O que, não sabes o que é barroca? Ha,ha, ha. Simpatia, barroca é um jogo em que se utilizam bilocas. Oh my god. Vai dizer que não conhece uma biloca?! Tudo bem, tudo bem, deves ser da era do vídeogame. Para jogar barroca, e ganhar, era preciso ter algumas expressões na ponta da língua: “preso esbigo”, “licença três pancada”, “num dô bebeuça”, “num dô buchuda”. Isso só para citar algumas. Preso e licença eras as palavras chaves. Quem queria tolher a açao do adversário, gritava: preso isso, preso aquilo. Quem precisava agir com liberdade bradava antes do companheiro: licença isso, licença aquilo. Entendeu? Vou desenhar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sexo e droga na imprensa tupiniquim

          Aos nove anos começou a fumar. Pegava bitucas de cigarro do pai. Aos 12 começou usar maconha. Repetiu a quinta série três vezes e foi expulso. Cheirou cocaína todo dia por quase 10 anos – agora diz que cocaína é de direita e maconha é de esquerda, que a maconha é socializante porque todo mundo fuma o mesmo baseado.  É categórico ao dizer que nunca acreditou em Deus. Foi preso quatro vezes: “todas parecidas, por causa de baganinha no bolso... Na primeira vez, tava com dois amigos no carro, chapados. Um deles gritando pela janela. A polícia civil cercou a gente no Pacaembu, perguntou se tava com alguma coisa. Disse que não, mas encontraram. Aí tiraram minha roupa, bateram, me arrastaram pelo cabelo. Eu tinha cabelo comprido”. Aos dezoito anos se envolveu com bandidagem. No momento da vida que mais ganhou dinheiro, jogou fora com, segundo ele, mulheres e drogas – e com a família também. Afirma que não entende nada de política. Não tem patrimônio.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Estupradores catarinenses ficam impunes

          “Quem tiver suas éguas que prenda, porque meus cavalos estão soltos”. Ouvi essa frase pela primeira vez lá pelos anos de 1970 no interior do Rio Grande do Norte. Apesar da pouca idade, mas faminto pela leitura, achei o seu autor um boçal. “Velho ignorante. Se tivesse estudo e cultura não falaria uma idiotice dessas”, resmunguei à época. Cresci, estudei, viajei e conheci muitos lugares. Vim parar em Florianópolis, capital modelo para muitos brasileiros. Boa qualidade de vida, cidadãos conscientes e educação em primeiro lugar. Um paraíso no atlântico sul. Tinha certeza que as palavras do ancião nordestino grosseiro não teriam eco por estas paragens. Será?

          No último mês de junho estava em Natal, coincidentemente, quando fiquei sabendo que dois rapazolas haviam estuprado uma menina de 13 anos em Florianópolis. A imprensa catarinense tentou encobrir. Foi sabotada, entretanto, pela agilidade e despudor da internet. Passou a circular emails na rede dando conta do crime, segundo a correspondência, praticado por dois filhos de “bacanas” da capital. Quando retornei à terra de Jorge Bornhausen, passei a acompanhar o trabalho de investigação. Percebi, de cara, que o ato delinquente ficaria impune. Por quê? Porque um dos marginais é filho de delegado de polícia, o outro criminoso é filho do diretor de uma rede de comunicação – RBS, afiliada da Rede Globo.

          Os calhordas foram descobertos por causa da denúncia na internet e por escreverem, na rede, idiotices que confirmavam suas maneiras arrogantes e criminosas de agir. Eles levaram uma menina, colega deles, para o apartamento do mais rico, drogaram-na e cometeram o estupro. Quando a imprensa percebeu que até os cachorrinhos de rua comentavam o assunto, resolveu noticiar o fato. Mas tudo feito com muita parcimônia. Os nomes dos bandidos foram omitidos por serem menores de idade. Tudo bem, mas por que não fizeram imagens deles, mesmo com o rosto desfocado, como fazem com os filhos dos pobres? Pior foi o que disse o delegado. O “homem da lei” veio na televisão dizer que não podia afirmar que houve estupro porque não estava no apartamento com os adolescentes, para saber se foi estupro ou sexo. É de chorar em alemão.

          Sem apelo na mídia, até porque, em Florianópolis, nem as emissoras concorrentes deram muito espaço, o crime foi se apagando rapidamente, como fogo de palha. A emissora do pai de um dos malfeitores insistiu em dizer que o caso estava sendo tratado com delicadeza, tendo em vista envolver menores. Segundo ela, era tudo em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Como eu já esperava, a justiça finalizou o inquérito, confirmou o estupro e – pasme, criatura! – aplicou medidas socioeducativas aos bandidos.  A promotora Walquíria Ruicir, da infância e juventude, concluiu que existem provas do estupro. A juíza Maria de Lourdes Simas Porto Vieira – grave esse nome porque um dia pode ser que ela se candidate e peça seu voto -  foi quem definiu as medidas. Ela simplesmente não quis falar sobre a decisão. Decisão essa que deixou a família da vítima estupefata. O advogado da família, Francisco Ferreira, afirmou que os pais da menor esperavam a internação dos facínoras. Francisco também disse que a decisão da justiça é um estímulo a outros casos de violência.

          Cá entre nós, eu já esperava tal atitude por parte da justiça. Um dos pilantras já desdenhava da justiça catarinense ha tempo. Em uma conversa entre ele e um colega, trazida ao ar pela Rede Record, foi perguntado se ele não temia ser preso. A resposta foi: “Tu tá zoando?”. O filhinho de papai sabia que estava imune aos rigores da lei. Interessante é que a decisão judicial não foi alardeada pelas páginas policiais de Santa Catarina. Eu nem me refiro à RBS, porque os coitados dos jornalistas que lá trabalham não são bobos de fazer matéria contra o filho do patrão. Mas a concorrência também silenciou. Parece-me, eu disse parece-me, que é mais ou menos assim: alivia para mim, que aliviarei para ti.

          Os estupradores estão soltos. Santa Catarina perdeu. Florianópolis perdeu. A justiça brasileira, mais uma vez, perdeu. O jornalismo catarinense perdeu. Quem ganhou, quem ganhou? O velho nordestino do início deste texto que disse: “Quem tiver suas éguas que prenda, porque meus cavalos estão soltos”. Lembro como se fosse hoje que achei aquele senhor um desgraçado. Achei que ele era um câncer na sociedade. Que era um inculto, iletrado e nojento. Não, ele não era nada disso. Ele era um exemplo para as gerações por vir. Seus ensinos, apesar de minha discordância, chegaram até o sul-maravilha. O Nordestino fez discípulos em Santa Catarina. Um deles, hoje é delegado de polícia, o outro é dono de emissora de televisão.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quem fofoca mais, o homem ou a mulher?

          Dizem que os homens são mais fofoqueiros do que as mulheres. Não sei se é verdade. Que são mais invejosos, sei que são. Sempre desconfiei da inveja masculina. Nós, homens, adoramos botar essa pecha nas mulheres. Afirmamos com a convicção própria dos mentirosos, que o sexo feminino é invejoso, mexeriqueiro e “otras cositas más”. Quanto à inveja, entretanto, o Zuenir Ventura apresenta, no livro Mal Secreto, dados incontestes de que o homem é o supremo dominador do assunto. Até porque o homem vem comandando o planeta há séculos. Cá entre nós, a história da humanidade é puro conflito de interesse entre ditadores invejosos. Voltemos à fofoca. Será que no quesito fofoca os marmanjos também ganham da mulherada?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Se elas dançam, eu danço

          Quando elas dançam tudo fica mais bonito. Claro que se a dança pende para um frevo, é melhor se proteger. É ótimo vê-las ao ritmo de valsa. Acompanhando um bolero, então! Mas não pode ser um bolero desses de quinta categoria que escutamos serem tocados por tecladistas solitários, geralmente desconhecedores de um Ravel. É imprescindível que não seja produzido por um Cássio qualquer, ou ainda por um Yamaha automatizado. Pois vamos combinar: na grande, mas na grande maioria das vezes, o tecladista coloca uma gravação que tem todo o acompanhamento e fica, no máximo, fazendo umas notinhas com a mão direita. Ui. Negativo. Elas dançam tão bem, são tão elegantes, que merecem o som mais harmônico que se possa ouvir. A verdade é que elas dão um show. Quase sempre estão grudadas umas as outras. Aqui acolá notamos movimentos solitários, embora totalmente compassados – elas também dançam solitas. Vale a pena observá-las.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A mulher que jogava futebol

          Comprou o terreno no melhor local que o bolso viu. Construiu a casa aonde iria morar até ficar com os cabelos nevados, as juntas encarangadas e a voz sonolenta. Numa rifa ganhou a companheira amada, idolatrada, salve salve do Brasil. Tudo bem, tudo bem, não conheceu a mulher no jogo. De tão bela, amável e intrépida, a abençoada mais parecia um prêmio. Os pombinhos tinham amigos em quantidade considerada. O homem gostava - e como gostava! – de jogar futebol. Não tinha a menor intimidade, contudo, com o brinquedo que levou o Brasil ao delírio em 1970 no México. Nas peladas, era sempre o último a ser escolhido. E o último, para ser sincero, não é escolhido. Escolhido é o primeiro, é o segundo, é o terceiro. Depois é tudo banana do mesmo cacho. O último, embora nem precise dizer, é o pior de todos. E o nosso amigo era quase sempre o derradeiro. A não ser quando aparecia algum que estava mancando devido ao dedão quebrado. Voltemos à casa.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A História Secreta dos Papas

          O sujeito entra na livraria e dirige-se direto a uma prateleira no terceiro piso da loja. Não, as ofertas colocadas em seu caminho não turvam-lhe o interesse. Procura por um livro. Não vai para casa sem ele, pensa. Troca o óculos escuro por outro que carregava na mochila. Sem o de grau ficaria bem mais difícil procurar um título entre tantos. Sobe o olhar, desce, vai até o alto da mais alta estante e nada. Não há jeito, por mais que não queira, terá que recorrer à vendedora. – Pois não, senhor -, sorri a jovem. – Você tem A História Secreta dos Papas, da editora Europa – pergunta o cidadão. A moça faz uma cara de quem nunca ouviu falar da obra e dá umas tecladas no computador a sua frente. - Não, senhor, não temos -, conclui sem saber que estava frustrando o freguês.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Fotos de Paraty

          Começou ontem e vai até domingo, dia oito, a Feira do Livro de Paraty, no Rio de Janeiro. Aproveito a situação para postar umas fotos que fiz na última vez em que estive por lá.

















quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A imprensa, o corno e o coronel

          Ontem eu falei sobre o Contestado. De passagem, digamos assim. A Guerra do Contestado foi o conflito interno aonde o Exército Brasileiro atuou com o maior contingente em sua história. É bem verdade que não mereceu o devido destaque por parte dos nosso livros escolares. Até hoje tem gente achando que o maior entrevero nas terras descobertas por Cabral foi a Guerra de canudos. O quiproquó catarinense envolveu mais da metade do efetivo nacional. Relativo a contenda pelas bandas do planalto serrano, lá pelos anos de 1913, vou contar um fato relatado por um historiador.  

          O município de Curitibanos era o feudo do coronel Francisco de Albuquerque. Lembra do coronelismo, não é? Se não lembra, aproveite e, depois que terminar de ler este post, entre no papai Google e dê uma relembrada. Então, o dito coronel tinha lá os seus adversários. Um deles era o comerciante João Sampaio, que um dia fora-lhe compadre e amigo. A verdade é que Sampaio tinha uma mulher conhecida pela beleza. Certa vez Albuquerque foi flagrado saindo sorrateiramente da casa do compadre às altas horas. Ora, Sampaio estava viajando. Um candidato a genro do comerciante flagrou o manda-chuva e deu-lhe um balaço. Não acertou o corpo do carcará, mas feriu a moral do caudilho.

          Contenda feita, certa vez os Sampaios tentaram emplacar notícias que prejudicariam a imagem do Ricardão. Cá entre nós, achar mácula na vida do tal Albuquerque não era tarefa das mais difíceis. Foram até Lages, principal cidade da região, e procuraram os jornais. Ninguém aceitou publicá-las. Ora, ora, paisano, o “pegador” era correligionário político da família Ramos, que mandava e desmandava no pedaço. O pobre Sampaio acreditava, já naquele tempo, em liberdade de imprensa.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Eu não sou cachorro, não

          Diz-me uma coisa: você já ouviu falar no general Setembrino de Carvalho? Não? Se você é natural de Santa Catarina, coloque um ponto de exclamação depois do sinal de interrogação. Se você se considera uma pessoa de farto conhecimento, também coloque o símbolo exclamativo. Caso mores no estado onde nasceu Gustavo Kuerten, embora tenhas vindo de outras paragens, como é o meu caso, perdoar-te-ei o desconhecimento. O famoso militar foi o comandante da mais importante expedição do exército enviada ao Contestado. Lembra da Guerra do Contestado? Pois bem, quando o General chegou no palco do conflito, pelas bandas de Caçador, Curitibanos, Lebon Regis e outras povoações, ficou impressionado com o desnível social reinante.

          E no relatório que fez, escreveu assim: “A diferença de condição entre o proprietário e o camarada era e é de tal sorte manifesta que suas relações em muito se assemelham às que deveriam existir entre escravos e senhor” (Setembrino de Carvalho, 1916:2). Ou seja, lá se vão 100 anos de história. Os tempos, entretanto, mudaram. A sociedade evoluiu. Os pobres já não são assim tão miseráveis. Os religiosos ultrapassaram o fundamentalismo e os políticos deixaram para trás a corrupção. Hoje cedo assisti a uma reportagem envolvendo alguns jogadores de futebol do Santos. Os atletas estavam na concentração e resolveram entrar na internet. Quando um torcedor, que interagia com eles, criticou o goleiro – chamando-o de mão de alface -, este deu uma resposta que me lembrou Setembrino: "Aí, fera, o que eu gasto com o meu cachorro de ração é o teu salário por mês", fulminou.
 
          Gente do céu, aonde vamos chegar! O torcedor foi colocado em uma situação de total desprezo. A desigualdade financeira coloca atletas de futebol e a maior parcela da população brasileira em patamares diferentes. Os ricos se acham no direito de humilhar, de pisar e tripudiar o menos favorecido. O que achas, paisano, que o General Setembrino diria ao ouvir tal besteira dita pelo futebolista? Para ser sincero, eu não sei. Mas sei que o filósofo Waldick Soriano cantaria assim: “Eu não sou cachorro, não, pra viver tão humilhado. Eu não sou cachorro, não, para ser tão desprezado”. Pois é.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Hamas, Mosab e o cordeiro

          Nasceu Mosab. É manhã de sábado, acordo com os raios do astro rei, e com o cheiro de pão que vem do andar de baixo.  A janela do quarto está desprotegida. A cortina havia sido presa propositadamente na noite anterior. As frinchas das nuvens alargavam-se aos poucos e permitiam que a luz solar entrasse sorrateira no aposento. O piso de madeira do espaço onde acabo de abrir os olhos não é obstáculo para a fragrância que sai da panificadora elétrica. As partículas odoríferas parece que sobem as escadas, caminham pelo cômodo e gritam nas minhas narinas. Pão fresquinho e sol. Acordo. Antes de levantar da cama, espio pela vidraça e vejo uma criatura saltitando no morro. Parece um pedacinho de nuvem branca que despencou do céu.

          Tem mãe, tem pai, mas não tem nome. O parto deve ter sido de quinta para sexta. Percebo pela maneira que ele anda. Não há firmeza em seus passos. Apesar do frio, levanto-me e tomo banho. Tomamos um café da manhã e resolvemos caminhar. A essas alturas o céu está azul. Os últimos resquícios de cerração se foram. Manhã perfeita para esticar as pernas e melhorar o preparo físico. Antes, preciso dar uma examinada no recém-nascido. A mãe dele é a ovelha mais mansa do sítio. O pequenino comporta-se como ela e deixa que passemos a mão nele. Surge a dúvida: como chamá-lo? Penso em Sultan Khan, aquele personagem do livro O Livreiro de Cabul. Reprimo logo a ideia. Uma criatura tão pura e cândida não merece carregar o nome de um cara tão hostil e avarento. Adio a escolha.

          Após o almoço começo a ler outro livro. Diga-se de passagem, que não há coisa melhor para fazer, enquanto a cachoeira faz um fundo musical, do que ler um bom livro. E sempre carrego um comigo. Filho do Hamas é minha leitura. Trata-se da história de um palestino que se tornou espião do Shin Bet, o serviço de inteligência interno de Israel. Mosab Hassan Yousef, o centro do livro, é filho do xeique Hassan Yousef, um dos fundadores do grupo terrorista Hamas. Ao completar 18 anos, Mosab é preso pelo exército israelense. Convencido pelos judeus, trabalha 10 anos como espião. Depois de se converter ao cristianismo, pede para ser exilado nos Estados Unidos. O livro é um duro golpe no fundamentalismo mulçumano. Com um pouco menos de trezentas páginas, e custando cerca de trinta reais, o livro da editora sextante é uma ótima pedida para quem tem curiosidade acerca das questões que envolvem a disputa entre Israelitas e Palestinos.

         Terminei a leitura do livro e fui pesquisar na internet a respeito do que acabara de ler. Assisti alguns vídeos sobre Mosab, li artigos e reportagens, inclusive do jornal Haaeretz – de Israel. Conferi a existência dos personagens, porque sou igual goiano: gosto de pegar para saber se o trem é bom. Gostei do Mosab. Como costumo batizar meus animais com nomes de personagens dos livros que leio, resolvi chamar o cordeirinho de Mosab.