Chegou e foi logo cantando. Soltou a voz rouca e mostrou que era o rei do pedaço. Uma voz feminina ao meu lado chamou-o de Tarcísio Meira. Isso porque o carijó veio acompanhado de uma parceira que, no embalo, recebeu o nome de Glória Menezes. Emudeci. Ora, ora, chamar Berlusconi de Tarcísio! Desde que eu soube que o galo iria coabitar com doze fêmeas, escolhi o nome para batizar o danado. Assim, de cara, veio em minha mente o Primeiro Ministro italiano. Lógico, paisano, tem algumas companheiras do galináceo que mal completaram um mês de vida. Trazendo isso para o campo dos humanos, elas não passam de adolescentes que ainda não perderam o cheiro da fralda. Lembro que, quando criança, - como o tempo passa rápido, meu Pai – os adultos usavam uma expressão para botar uma meninota metida a moça no seu devido lugar: “essa menina nem perdeu a catinga do mijo e já ta se enxerindo”.
Berlusconi, o galo, pouco se importa com a idade das bicudas. Acho que ele pensa que quem tem que cuidar das ninfetas são os pais delas. Como elas não têm pai – pelo menos ali no galinheiro – ele faz a festa. Glória Menezes é linda. Para ser sincero, toda galinha carijó é bonita. Há quem diga que toda galinha merece um elogio. Ela é o símbolo maior da doação. Não há nada nesse asteróide insignificante chamado Terra que se doe mais do que a galinha. Vive para botar ovo, encher o mundo de pintinhos e depois virar pitéu. Glória caiu-lhe bem. Galinha com nome e sobrenome. Esta crônica, no entanto, é para falar de Berlusconi, e a ele retornemos antes que meu tempo acabe.
Quando soltei o frango, achei que o cara demoraria a se ambientar. Digo frango porque o bicho tem apenas seis meses. Pouco mais de meia hora depois ele começou o show. Aí, meu amigo, virou galo. Logo me perguntaram:
- Ele deve estar feliz, não é?
Não sei se os galos agem como os homens, que cantam quando a felicidade lhes ronda a porta. Eu, para ser sincero, não sei se cantaria preso. Não aguento, sequer, passar uma semana recluso num apartanil no Centro de Floripa. Apartanil é um neologismo criado por mim para designar a mescla de apartamento e canil. Conheço gente, por sua vez, que vive quase o ano inteiro dentro de um lugar desses. Para completar, misturam fumaça de cigarro e bafo de álcool. Depois, dão um play no som e cantam à vontade. Sendo assim, Berlusconi pode, sim, ter cantado por estar feliz. É, tenho quase certeza que o ciscador estava para lá de contente. E mal clareou o dia, a cantoria recomeçou.
- Berlusconi, insensível, não sabes que a economia mundial está prestes a entrar em colapso? Ou pensas que será apenas mais uma marolinha? Deus te ouça, penoso.
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