Para o Brasil dar um salto de qualidade é preciso:
1- Que todo político e toda turma do judiciário sejam obrigados a ter atendimento médico pelo SUS. Plano de saúde e médicos particular, necas trepas de pitibiriba.
2- Que eles só possam ir ao trabalho se for usando transporte coletivo.
3 -Que não tenham direito a segurança armada nem a escolta policial.
4- Que sejam julgados na justiça comum. Foro privilegiado, nem pensar.
5- Que eles morem ao lado dos presídios.
6- Que os filhos deles sejam obrigados a estudar em escolas públicas.
Fazendo isso, o país vai entrar nos eixos.
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domingo, 30 de outubro de 2011
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Ambulâncias para os cabarés
Ai, meu jesuizinho
cristinho!, os médicos que atendem pelo SUS vão cruzar os braços. Sério, os
danadinhos – e as danadinhas também, claro – estão protestando contra os baixos
salários e as más condições de trabalho. Pelo menos foi isso que a Folha de São
Paulo registrou hoje. Euzinho aqui acha que a briga é apenas por dinheiro. Esse
papo de melhora nas condições de trabalho é conversa fiada. Tudo grupo, como
diz o filósofo da periferia. Para ter o apoio da população, os de branco alegam
preocupação social. Não que o Gile ignore as péssimas instalações do sistema
único de saúde. É de chorar em alemão. Essa parada dos médicos, pelo menos, é
por aumento salarial; só isso. Em uma sociedade fragmentada, quebrada em miúdos
e desconectada – apesar da internet – cada qual luta pelo seu pedaço. “Que se
dane o mundo que eu não me chamo Raimundo”, é a frase que melhor reflete o
cidadão atual.
Com os médicos não é
diferente. Sim, temos raras e salutares exceções. No geral, contudo, é cada um
por si e o governo contra a maioria. Só quem não faz greve por aumento de
salário é a turma do judiciário. A rapaziada da política também não, lembrei
agora. E pelo mesmo motivo: são parceiros na rasgação do dinheiro público. Agora
vamos combinar: o que tem de médico dando “migué” em plantão, hem. As denúncias
se amontoam por todo o Brasil. A qualidade no atendimento é para lá de
questionada. Só não entendo o motivo de o pessoal dos serviços gerais não estarem
de mãos dadas com os médicos. Se a briga é, também, por melhoria nas condições de
trabalho, o ambiente nos hospitais carece de transformação urgente. E os
enfermeiros? E os técnicos de enfermagem? Estão todos ganhando altos salários? Se
os médicos vão parar, que parem todos os profissionais da área da saúde.
E tenho uma sugestão a
fazer ao movimento grevista: direcionem as ambulâncias com doentes para as
câmaras municipais, assembleias legislativas, prefeituras, palácios de
governadores e outros cabarés semelhantes. Quem sabe? Pode até dar certo.
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segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Vem veranear em Floripa, vem
“Tá
chegando o verão, muito amor no coração”, diz o poeta. De barriga vazia, meu
chapa, não tem amor que resista. E é bom que fique esperto quem pretende curtir
os 30 dias de calor em Floripa. Almoçar, por aqui, simpatia, não é brinquedo
não. Só para que vossa santidade tenha uma ideia: Ontem,
domingo ensolarado, temperatura chegando aos 28º, resolvo ir almoçar em Santo
Antônio de Lisboa. O recanto açoriano da ilha é uma conhecida via gastronômica.
Chego lá por volta das 13h.
Simplesmente não tem onde estacionar. Vou seguindo, seguindo, até o Sambaqui.
Nada. Nem uma mísera vaga. A paisagem encantadora desvia a atenção do
estômago. Faço todo o percurso de volta e necas trepas de pitibiriba. Vez por
outra, paro na frente de um restaurante e olhava para dentro: gente saindo
pelo ladrão. As filas de carros estacionados na rua me disseram: “imagine como
vai ser andar aqui em janeiro”. Deixei o peixe para outro dia e rumei para o
Pântano do Sul, no oposto de onde eu estava.
Por
volta das 14h30, parei o cavalo na beira da praia do Pântano. Quando chega a
bóia, o garçom fez a tradicional pergunta: “bebe alguma coisa?”. Refrigerante quente,
meu chapa, ninguém merece. E ele tenta concertar: “o senhor quer gelo?”. Quase
que pergunto se ele costuma oferecer gelo para a gambazada colocar na cerveja.
É que as geladeiras só aceitam cerveja, de certo. É como se o cliente não tivesse
direito a um simples refri gelado. Acho que é a ditadura da cerveja. Reclamei,
claro. O gerente, ou era o dono, sei lá, ficou de cara amarrada. Mais uma vez,
a vista compensava. Na volta, mais engarrafamento. A televisão avisava: “em
Salvador, Vasco da Gama 1, Bahia 0”. Pelo menos uma boa notícia naquela fila
nojenta. E ainda estamos em outubro. Imagine o que te espera na alta temporada,
jacaré. Natal, cidade do sol, dia 4 de janeiro estarei aí. Quando esse furdunço
acabar eu volto.
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domingo, 23 de outubro de 2011
Domingo de sol em Floripa
Avenida mais charmosa da cidade, um convite para a caminhada:
Da Beira-Mar norte para o Pântano do Sul:
Da Beira-Mar norte para o Pântano do Sul:
Estacionamento misto |
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quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Uma vez Flamengo...
E o Flamengo, hem? Meu "dius", o que foi aquilo? Caiu de quatro diante dos chilenos. E ficou barato. Tivesse sido oito a zero estava de bom tamanho. A urubuzada ficou de crista caída.
Troca-se uma bússola por um hambúrguer
Nem existia a bússola e as
pessoas já buscavam um norte para suas vidas. Um rumo certo, uma saída ou uma
simples refeição. Eu mesmo, desde que andava só de calção escutava minha mãe
falando de um ideal. Para quem já mora no norte, o norte é invertido. Caí no
sul. Pura lei da gravidade – Newton já sabia. E andando pelas ruas de Natal,
Rio de Janeiro ou de Floripa, deparo-me com as mesmas caras, os mesmos olhos
buscando, buscando, buscando. A coisa é meio instintiva. O camarada já vem ao
mundo "pixcurando" um não sei o quê. E passa a perseguir um cheiro, um prazer ou um
milhão de dólares. E alcança.O pior é que alcança.
Um belo dia a mãe de
família, bem casada, quinze filhos nas costas, entra no supermercado, olha para
um cidadão que tem uma barriga de nós todos e sente um tremor nas pernas. O coração
da mulher, calejado de tantas buscas não deixa dúvida: é esse o homem da minha
vida. E ela nota que passou a vida buscando o certo e achou o errado. O mal
estava sacramentado. O cara para numa lanchonete com o intuito de matar a fome
com um lanche rápido. Num lugar que nunca havia ido antes, embora tivesse
passado na frente incontáveis vezes. Quando olha de lado vê uma dama de mãos
dadas com um guri que não tem ainda sete anos. Depois de uma consulta ao
coração, ele sabe que está diante da mulher dos seus sonhos. E agora José? A
festa acabou, meu nobre. Tanto ela quanto ele não souberam ler o que diabos
suas bússolas diziam há dez, quinze, vinte anos.
O danado do rumo certo,
daquele norte que minha mãe disse ser legal, é um desconhecido que anda
disfarçado. E por isso erramos tanto quando decidimos. Hoje, com quatro décadas
na cachola, costumo torcer o bico quando me convidam a um casamento. Festa,
juras de amo eterno, bússolas desorientadas. E lá se vão mais duas vidas para o
leste, depois de terem embarcado no trem que leva ao oeste. É, meu caro, minha
cara, se o senhor ou a senhora tem mãe, assim como eu tenho dona Margô, que tal
pedir a bússola dela emprestada? Ou então, contente-se com um hambúrguer.
Antiga estação de Canoinhas |
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Vai um pedaço de pizza?
- Ô, irmão, cuida
com essa moto, hem. Vai devagar.
Esse cuidado com um desconhecido me deixou pensativo. Porque
foi sincero. E a sinceridade, meu chapa, é uma roupa discreta. Não é carregada
de purpurina, como o é a da sua irmã gêmea - a falsidade. Só quem convive, ou
conviveu, com as duas é capaz de diferenciá-las. Ronaldo tinha uma espécie de
limo no pescoço. A barba e o bigode ralos não viam uma gilete há pelo menos uma
semana. O jeans e a camiseta, numa olhada rápida, pareciam acompanhá-lo nas
últimas 72 horas. Só mesmo a chuva para fazer com que eu me aproximasse de um
morador de rua como ele.
A chuvinha fina, daquela feita para molhar bobo, empurrou-me
junto com a moto para o primeiro abrigo que vi. Foi quando ele me cumprimentou.
Bem articulado, lamentou a chegada das imprevistas águas e o incômodo que
causara a nós dois. Com o preconceito que é passado de geração a geração,
pensei: “lá vem ele me pedir dinheiro”. Estávamos próximos a uma casa de massas
– que eu não direi o nome porque não sou pago para isso – e vi que de lá saía
um colega do Ronaldo. As características não deixavam espaço para dúvida, era
morador de rua também. Com um sorriso
furado, inteiramente alheio a crise econômica da Europa, trazia uma caixa cheia
de fatias de pizza. Estendendo o braço direito na direção do sem-casa, ofereceu
numa mistura de idiomas:
- Pega aqui, brother.
- Valeu, irmão – e Ronaldo pegou dois pedaços.
- Pega mais, brother – insistiu – porque tô indo embora.
Ronaldo devorou os dois que
tinha nas mãos fervilhantes de bactérias e atacou outros três. O da pizza
esticou a caixa na minha direção.
- Vai um pedaço, brother?”.
- Não, não, obrigado
Mais uma amostra de dentes
e despediu-se. A chuva acompanhada de cinzas do vulcão chileno continuava e
Ronaldo contou um pouco acerca da vida na rua. Da vinda do Mato Grosso para
Floripa, da mãe.
- Ela trabalha no
tribunal, irmão; ganha bem. Mas é materialista.
Monossilábico, eu
levantava a bola para ele cortar.
- Eu não acredito em Jesus
– afirmou. Pensou um pouco, coisa de 3 segundos e corrigiu:
- Até acredito; mas se ele
vai voltar, por que não voltou ainda? A coisa tá feia, irmão. Ele tá esperando
o que?
Após uns dez minutos a
chuva ameniza. Quando acelero a moto ele faz uma cara de quem está sinceramente
preocupado com minha vida e alerta:
- Ô, irmão, cuida com essa moto, hem. Vai devagar.
É, bendita chuva.
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terça-feira, 18 de outubro de 2011
Isso, sim, é um belo texto
Tem certos textos que merecem um bater de palmas. Não me refiro, evidentemente, àqueles vômitos recitados na televisão disfarçados de telejornalismo. Muito menos aos escritos encomendados que circulam pelos chamados grande jornais brasileiros. Como dizia o saudoso filósofo da favela, Bezerra da Silva, "é tudo grupo". Simpatia, o que é bom fica guardado. Não sai por aí desfilando em carro aberto, feito time de futebol quando ganha um campeonato. O bom, camarada, está sempre jogado fora da estrada. Falta-lhe combustível. Não porque lhe escasseie a grana para abastecer, não. São parcos os frentistas capazes de injetar gasosa no tanque do bom. "Ué, Gile, que mistura é essa de carro e texto?", vossa excelência pode estar me perguntando. É que às vezes me deparo com jazidas quase que inexploradas de qualidade textual. Você já ouviu falar no "letras da torre"? Não? O Jornal Nacional você conhece, não é? Faz favor, colega, dá uma lida neste texto e veja se, de fato, o que é bom não está guardado: http://letrasdatorre.blogspot.com/2011/10/1984-da-ficcao-de-george-orwell.htmlhttp://letrasdatorre.blogspot.com/2011/10/1984-da-ficcao-de-george-orwell.html
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
A antinet nada
Pensem nas crianças
Mudas no orkut
Pensem nas meninas
Cegas facebook
Pensem nas mulheres
Pages bagunçadas
Pensem nos emails
Como autoestradas.
Mas não se esqueçam
Da mãe internet
Internet deusa
Guia, escravocrata
A internet vírus
Babaca e molestada
Net gangrenada
A antinet micro
Sem vida, sem braço
Sem gente, sem nada.
Mudas no orkut
Pensem nas meninas
Cegas facebook
Pensem nas mulheres
Pages bagunçadas
Pensem nos emails
Como autoestradas.
Mas não se esqueçam
Da mãe internet
Internet deusa
Guia, escravocrata
A internet vírus
Babaca e molestada
Net gangrenada
A antinet micro
Sem vida, sem braço
Sem gente, sem nada.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
República Três Platôs não admite roubo
Tinha comida para todas. O olho grande e a ganância, entretanto, não limitam-se por justas divisões. Bibigul, por ser maior do que Maria Rosa e Chica Pelega, ganhou o dobro do que recebeu cada uma das mini-vacas. Mesmo assim, aproveitando-se de um cohilo do interventor - eu mesmo -, avançou sobre o cocho das jerseys. Quem conhece um pouco de gado, sabe que jersey é um tipo pequeno e leiteiro. Original da Ilha Jersey, é ideal para terrenos acidentados, como é o caso na República Três Platôs. Perto do famoso sítio/república - ao menos neste blog ele tem status de celebridade -, no município catarinense de São Bonifácio, há uma bacia leiteira formada apenas por vacas dessa raça. Leves, estragam pouco o pasto dos morros.
Chica Pelega e Maria Rosa, que receberam os nomes em homenagem a duas guerreiras da Guerra do Contestado, são as mais novas moradoras do Três Platôs. Por terem menos de seis meses, são um pouco maior do que um espirro de gato. Bibigul, mestiça de jersey com holandesa, e robusta pela fartura da república onde mora, achou-se no direito de açambarcar a ração da piquituchas. Fiquei indignado. Ora, a danada ainda não havia comido a metade do que tinha no prato. E resolveu imitar os humanos. É, nós descendentes de Caim somos, via de regra, ambiciosos. Quanto mais temos, mais queremos ter. Por isso não acredito que uma forma de evitar a corrupção seja aumentar os salários dos servidores públicos. O salário carece ser melhorado, sim senhor, mas por outra causa. Temos que melhorar é o nosso caráter.
Não perdi tempo. Expulsei Bibigul do curral. Perdeu "preiboy". Desacorssoada, feito torcedor que vê o time dele escorregando para a segunda divisão, ficou assistindo as colegas se empanturrarem de soja e farelo. Quem sabe agora ela aprenda que o Três Platôs não é o Brasil. Sim, no Brasil o ladrão anda de carro importado, tem mansão e uma polpuda conta bancária. E ainda entra na vida pública para limpar os cofres oficiais. Não, Bibigul não deve ser comparada a esses senhores. Foi apenas uma ilustração.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Seleção Brasileira tem futebol decadente
O futebol apresentado pelo time da CBF é parecido com o dono da entidade - Ricardo Teixeira. A equipe e o cartola são personificações da decadência. Eu, que gosto de assistir futebol, não consegui, sequer, ver o primeiro tempo inteiro do jogo contra o México. Por volta dos trinta e cinco minutos de partida, botei uma cama nas costas e só acordei no dia seguinte. Os canarinho perdiam por um a zero. Fui dormir tendo a certeza que o placar seria o menos importante naquele amistoso. Ora, o capitão dos brasileiros era o "baladeiro de Floripa", Ronaldinho Gaúcho. O apelido do boleiro foi dado por um jornal daqui, da capital catarinense. E vamos combinar: sendo ele um jogador decadente, e ao mesmo tempo o chefe da equipe, a tal seleção também é decadente. Gente, Ronaldinho apareceu, de fato, para o futebol em 1998. Após 141 partidas pelo Grêmio de Porto Alegre, cruzou o Atlântico rumo a França - foi para o Paris Saint-Germain. De lá, transferiu-se para o Barcelona da Espanha. E teve seu auge entre os anos 2004 e 2006. E deu.
Seu principal feito vestindo aFoi idolatrado ao fazer um gol sem querer na Inglaterra, na copa de 2002. Depois de amargar a reserva no fraquíssimo time do Milan, deu uma cartada de mestre. E afirmo que foi a maior jogada dele nos últimos 5 anos. Veio jogar no Flamengo. Ele sabia, assim como seus assessores, que só jogando pelo rubronegro carioca retornaria à Seleção. Pode anotar: caso estivesse no São Paulo, Vasco ou Grêmio, jamais voltaria a vestir a camisa que Pelé consagrou. A chamada "Grande Imprensa" logo tratou de encabeçar uma campanha que levaria o flamenguista a ser protagonista do time da CBF. Ronaldinho atingiu o ápice em meados da década passada, é fato. De lá para cá, entrou em declínio. Há quem diga que "ele foi campeão carioca neste ano pelo mengão". Isso merece a mesma importância que o título conquistado pelo centroavante Zé Cocão no último campeonato de veteranos da AABB.
Sabe aonde vai parar uma seleção cujo dono é o acusadíssimo de corrupção Ricardo Teixeira, o motorista é o neófito Mano Menezes e o capitão é o decadente Baladeiro de Floripa? Opa, mas ganhou do México; e Ronaldinho fez um gol. Me engana que eu gosto. Espero, entretanto, que o Ganso volte. Ele, Neymar e uma penca de outros craques podem, quem sabe, dar a Teixeira, a Mano e a Ronaldinho o título de campeões mundiais.
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quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Feriado na Beira-Mar Norte é assim
Feriado, 8h30, na avenida mais charmosa de Floripa tem:
Beleza
Beleza
Mais beleza
Raridade
Protesto
Esgoto aditivado
E parceria
Isto, sim, é parceria
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terça-feira, 11 de outubro de 2011
Berti, agora, é mamãe
Berti Albuquerque é mamãe. Nasceram os filhos da bicuda. Quem é Berti? Não, não é atriz de novela, cinema ou teatro. Tampouco foi flagrada, duas horas antes de engravidar, com um badalado jogador de bola. Vida de celebridades, meu chapa, não me diz respeito. E se não diz, não me interessa assistir reportagens de três horas a respeito do suposto filho de um peladeiro com uma também suposta modelo. Esse tipo de matéria - que nem de longe deve ser considerada jornalística - não passa de intromissão na vida alheia. E no dia seguinte, o cidadão sem marido ou sem roupa para lavar não fala em outra coisa: "nasceu a filhinha de fulano; é a cara do pai". O outro responde: "já nasceu famosa; isso que é sorte". Vai te catar, né. Vai limpar um quintal, lavar uma louça ou passar umas camisas. Claro, há outras opções - ler um Hemingway, ver um documentário ou cuidar das próprias finanças. Isso não é notícia, meu filho, é engodo. O nascimento dos filhos de Berti, entretanto, é notícia.
Berti e seus pupilos |
- Quem danada é Berti, Gilead? - está se perguntando o leitor, ou a leitora, mais afoito, ou mais afoita. Berti Albuquerque, simpatia, é a carijó da foto acima que ganhei há poucos meses e mora junto com o galo Berlusconi na República Três Platôs. Batizei a penosa em homenagem a primeira chefe de Estado das Américas, Brites Albuquerque. Esposa de Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, assumiu o comando por lá quando ele foi a Portugal tomar satisfação com o rei. Sim, mudei um pouco o nome da mulher. Achei Brites muito fresco para uma galinha. Berti é muito mais parecido com uma poedeira. O fato é que Berti, depois de 21 dias de encarceramento coluntário em seu ninho, teve filhotes. Cinco. Isso é notícia, paisano. Me diz respeito. O aumento do meu patrimônio em cinco novas cabeças de aves é notíca, sim.
Teve época em que eu assistia tudo que era jornal para ficar bem informado. Ainda bem que parei, senão estaria, hoje, dando coice e relinchando. Imagine, camarada, o cara acordar e ligar a televisão em um telejornal. É desgraça na certa. Pense numa maneira de começar mal o dia. "Morreu", grita um; "Crise", alardeia outro; "Avaí na segundona", enche o saco um bastardo. Tô fora. E como é bom ter internet. Claro, você mesmo seleciona o que quer saber. Liberdade, liberdade, liberdade. Não preciso mais de um guia para asseverar o que terei de ficar sabendo. Berti Albuquerque está cuidando de cinco filhotes - um amarelinho do pescoço pelado, um cinzento e três alvinegros. Não, não é um corintiano, outro vascaíno e o terceiro abecedista.
Berti durante o cárcere voluntário de 21 dias |
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sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Senador quer chicote, cadeia e leis mais rígidas
Reditário
Cassol é o nome do cidadão. Cidadão, não, senador. Político, no Brasil, assim
como jogador de futebol, está em outra casta – a mais elevada. Reditário –
pasme, mas é nome de gente – botou a boca no microfone do senado para dar
porrada em presidiários. Com um discurso capaz de enganar crianças de três a
quatro anos, o lindão rugiu: “Senadores, precisamos modificar um pouco a lei
aqui no nosso Brasil, que venha favorecer sim as famílias honestas, que pagam
imposto para manter o Brasil de pé e não criar facilidade para pilantra,
vagabundo, sem vergonha, que devia estar atrás da grade de noite e de dia
trabalhar, e quando não trabalhasse de acordo, o chicote, que nem antigamente,
voltar". Pra ser sincero, acho até que o cérebro de piolho está certo
quando reclama que pilantra, vagabundo e sem vergonha deveria estar vendo o sol
nascer quadrado. Pois foi isso que pensaram os franceses em 1790. Revoltados com
o sistema de governo, quase mil pessoas invadiram a prisão da Bastilha,
esfaquearam até a morte o governador (Bernard-René de Launay) e chutaram a tirania real para escanteio. A queda da Bastilha
significou que o poder estava mudando de mãos. Passava daqueles que discutiam
mudanças para aqueles que faziam alguma coisa para alcançá-las. É, Reditário,
dá ideia, dá.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
O jornalista, o diploma e a inocência
Foi numa palestra na Faculdade Estácio de Sá, aqui mesmo, em
Santa Catarina. Quem estava com o microfone era Sérgio Murillo de Andrade,
presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) à época. Entusiasmado,
o ex-funcionário da Gazeta Mercantil defendia com unhas e dentes a obrigatoriedade
do diploma universitário para o desempenho da profissão de jornalista. Sem ao
menos pedir permissão para interrompê-lo, uma moça tirou a bunda da cadeira e anamariabregou:
“jornalista é vocação; sou totalmente contra a obrigatoriedade do diploma”. Um colega
da estudante, bem mais educado do que um pernilongo no crepúsculo, tentou se
mostrar bem informado: “nos países desenvolvido o diploma não é obrigatório”. Murillo, acostumado aos acalorados debates
sindicais e com os escutadores de novela calejados de ouvir bobagens, não fugiu
da briga – que pelo tom de voz dos acadêmicos a coisa virara uma briga de foice
em um elevador sem energia – e replicou à altura as intromissões. O auditório
virou um cabaré de cego dentro de um balaio de gato. Paulo Scarduelli, então
coordenador do curso de jornalismo da instituição, entrou no debate e quase
apanhou. A discípula de Sabrina Sato só não estapeou meu amigo porque as patas
dela não eram tão longas. Lá se vão dois anos que esse fato se passou e ainda
ouço discussões sobre a necessidade de jornalista ter diploma para exercer a
profissão.
No meio dessa pornografia toda, lamento a inocência de alguns
jornalistas. Chamo de pornografia porque não pretendo agredir os ouvidos do
leitor, pois a não obrigatoriedade do diploma jornalístico é de interesse de
donos de jornais, de revistas, de rádios, de televisão e de qualquer outro
veículo de comunicação a serviço dos senhores feudais que dominam esse baixo meretrício
chamado Brasil. Daqui a pouco volto à inocência de alguns jornalistas. Só para
lembrar, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a obrigatoriedade do diploma
no dia 17 de junho de 2009. O diploma foi para a segundona depois de goleado
por oito votos a um. Os gols dos patrões da comunicação foram marcados pelos
ministros Gilmar Mendes – titular absoluto do time dos caciques brasileiros -,
Cármem Lúcia Antunes Rocha, Ellen Gracie, Ricardo Lewandowski, Eros Graus,
Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso e Celso de Melo. O raquítico gol dos
jornalistas foi assinalado pelo ministro Marco Aurélio. A obrigatoriedade do
diploma, que perdurava desde 1969, foi destronada em poucos minutos para a
satisfação dos seguidores de Assis Chateaubriand. STF, 69 e donos da mídia – é ou
não é sacanagem pura?
Ora, ora, simpatia, você acredita que o STF desancaria o
diploma se não fosse para atender o patronato? Vale rememorar que os senhores becados
acolheram o recurso ajuizado pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão
no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal. De nada
adiantou a Federação Nacional dos Jornalistas espernear. Em vão o advogado da Fenaj, João Fontes,
argumentou que “a exigência do diploma não impede ninguém de escrever em
jornal; não é exigido diploma para escrever em jornal, mas para exercer em
período integral a profissão de jornalistas”. Parece que o diploma fora
derrotado antes mesmo de começada a partida. O camarada que acredita na lisura
do placar, e que ganhou quem merecia, não tem na cabeça fósforo para acender
uma vela do tamanho de um alfinete.
“Então você acha que é um diploma quem faz um jornalista,
Gilead”, um incauto pode estar me perguntado. Não, respondo. Assim como não é
um diploma quem faz um advogado, um engenheiro civil ou um médico. Mas que, no
mínimo serve de filtro, ah, isso serve. Em um país movido mais a imagem que a
livros, a faculdade serve de guia para o aprofundamento de leituras, de debates
e de métodos apropriados para o desempenho da profissão. Agora, se as
faculdades não estão desempenhando bem suas funções é outra história. Ou o STF
resolveu dissolver a Câmara e o Senado por estarem desviados de seus
verdadeiros objetivos? Ou o mesmo STF decidiu acabar com as polícias civil e
militar por terem estas permitido a entrada de delinquentes em seus quadros? Eliminar
a obrigatoriedade de diploma universitário é, no mínimo, uma ode contra a educação.
“Mas tem um monte de jornalistas formados que não sabem PN (praticamente nada)”,
dirá um apóstolo do analfabetismo. Pois então, imagine o nível de quem nem
sequer frequentou uma faculdade. O diploma, paisano, é uma porta de entrada,
não de saída. E, lógico, o direito a ele deve ser facultado a todo aquele que
deseja seguir pela senda da reportagem.
Voltemos à inocência dos jornalistas. Meus amigos, a luta da
Fenaj é, sim, uma luta classista. E é assim que as coisas funcionam na
democracia. Para isso os sindicatos são criados, para defender o direito de
seus associados. Os patrões sabem que uma categoria unida, com um diploma universitário
na bagagem e bem representada é um entrave a mais para a patifaria que cerca os
grupos midiáticos. Sem contar com o salário mais alto que um formado terá
direito. Do jeito que está, o veículo oferece salários baixíssimos, manipula
descaradamente os chamados jornalistas e ainda posa de porta-voz da informação.
E o mesmo jornalista, coitado, que apregoa ser contra o diploma é quem reclama
dos salários miseráveis da categoria, da jornada cansativa e da falta de
liberdade ao escrever. Inocência, inocência, como te gostam alguns colegas meus.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Confissão de um assassino
Traí e matei meu amigo. É uma
confissão forte, mas é preciso que seja feita. Confessando, alivio o peso da
culpa que faz este nordestino ficar mais por baixo do que torcedor do Avaí. Trair
quem se gosta, em si já é um assassinato; tirar a vida, no entanto, é o último
estágio que leva um filho de Adão a ser semelhante ao protozoário. Domingo, sete
da manhã. Cai uma garoa no Três Platôs. Dois homens chegam em frente à porteira
e chamam: “Julliard?”. Desço até lá e abro o cadeado que impede o acesso deles
ao sítio. Munidos de cordas, vêm buscar Pirata, Gerineldo e Mel. Os três estão
pesados demais e tornaram-se inadequados para o solo cheio de altos e baixos da
propriedade. Estranhando a presença, os animais ficam a distância. Olham desconfiados.
Pirata está com três anos. Comprei-o quando tinha seis meses. Era osso e couro.
Ah, e dois projetos de chifres. Semimorto, de vida só possuía os carrapatos que
cobriam-lhe como se fosse uma manta. Uma olhada mais examinadora revelava por
completo o estado do boizinho – bernes refestelavam-se em sua carne. Dias foram
preciso para que ele permitisse minha aproximação. Já desverminado, livre dos
carrapatos e dos esfomeados bernes, aos poucos viu em mim um amigo. Dei-lhe
casa confortável, comida de primeira e a companhia de outros bovinos – entre eles
a Mel e o Gerineldo.
Sempre que eu chegava ao
sítio, ele me saudava com um berro; independente da hora. Não satisfeito, saía
em desabalada carreira na minha direção. Nunca, nunca teve um ato de
agressividade para comigo. O que ele não imaginava – e nem eu premeditara, juro
– é que ao ficar bonito e grande seria incompatível com o lar onde morava. E nos
doze graus da manhã acinzentada de domingo chamei-o pela última vez: “Pirata, ô
Pirata, vem cá, vem”. E ele veio. “Se o meu dono me chamou é porque não corro
perigo”, tenho certeza que imaginou. Como um político que recebe votos de
cidadãos e depois os esfaqueia em troca de punhados de dinheiro sujos, passei a
corda nas guampas de Pirata. Mel e Gerineldo tiveram o mesmo tratamento. Eles insistiram
em ficar. Era como se estivessem dizendo: “nosso lar é aqui, não queremos ir
embora, muito menos com estes homens que não são íntimos nossos”. Fechei-me dentro
de mim e fechei a porteira para nunca mais vê-los.
E quando eles sumiram na
curva da estrada senti como se estivesse perdendo partes de mim. Mel, bonita e
de boa linhagem, será usada como reprodutora, imaginei. Gerineldo, touro, na
certa terá vida longa. Pirata, entretanto, por ser boi será abatido, concluí. E
chorei por dentro, talvez com vergonha de me derramar em lágrimas por causa de
uns quadrúpedes. Mas eu sabia que eles eram mais do que animais. Pirata era um
amigo. Conversava comigo. Quem o conheceu sabe que não minto. Hoje, porém, tive
a notícia: “matei o Pirata”, disse o comerciante que o comprou no domingo
chuvoso. Foi como um tiro à queima-roupa. E senti a dor de ter traído e matado
um amigo. Sinto-me igual ao administrador público que não investe em saúde e deixa que os seus eleitores morram à míngua em corredores imundos de hospitais desaparelhados. Assim como o prefeito, o governador e o presidente matam o munícipe, matei Pirata.
domingo, 2 de outubro de 2011
A frase mais forte da língua portuguesa
“Pense
n’eu”. Essa frase é, de longe, a mais bonita, a mais romântica, a mais verdadeira,
a mais triste, a mais pura e a mais ingênua que já ouvi nessas minhas quatro
décadas por este mundo “véio” desmantelado. E ela é a mais em qualquer outra
série de mais que alguém pense em criar. Dita por uma menina de 15 anos do
interior da Paraíba que acabara de achar seu príncipe encantado e viu-se
obrigada a vê-lo partindo para o futuro incerto do Sul, é ingênua. É, também,
pura; puríssima. Os olhos talvez nunca mais se cruzem. Mesmo assim, crente que
o futuro os reunirá, ela faz um último pedido: “pense n’eu”.
Dita
por uma mulher do sertão cearense que arrasta duas crianças pelas mãos e outra
na barriga é triste. O marido dentro do ônibus prometeu-lhe enviar um dinheirinho
de São Paulo e voltar; sem saber quando nem como cumprir a promessa, ouve uma
súplica disfarçada de ordem: “pense néu, viu?”. Nunca mais ele esquecerá os
lábios finos da sertaneja amada se mexendo entre as lágrimas que explodem no
rosto. São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, nem uma metrópole apagará aquele “pense
n’eu”. Apegou-se-lhe à alma.
“Don’t
forget me” pronunciada nas telas de cinema por Katharine Hepburn é um chuvisco
de emoção. “Onde você estiver não se esqueça de mim” cantada por Roberto Carlos,
por mais manteiga que tenha a voz rei, não passa de um faz de conta. Sinto
muito por aqueles que desconhecem os recantos do Brasil, que não habituaram-se
aos sotaques, aos desvios da norma culta no falar. E pense, amizade, em duas
coisinhas que não se misturam: emoção e norma culta. Soa esquisito quando
tentamos uni-las. “Não te esqueças de
mim” é incapaz de ficar na memória de um homem. Basta um boteco e... adeus,
querida. Pense n’eu, não. Pense n’eu é como uma tatuagem. Experimente escutar
a música de Luiz Gonzaga e veja se não tenho razão: pense n'eu.
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