Mel está no cio. Sério, a terneira precisa urgente de um touro apaixonado. É que o Pirata é castrado, e o Gerineldo ainda é muito novo. Entrei em contato com um vizinho e ele me cobrou R$ 70,00 para levar um reprodutor até o sítio. Achei caríssimo. Aonde já se viu, cobrar uma exorbitância dessas para saciar os desejos da vaquinha. E é coisa rápida, pois os animais, diferentemente dos humanos, não se preocupam muito com a festança que o sexo proporciona. O macho vai lá, cobre a fêmea e se manda. Ela só vai pensar nele depois de mais de um ano. Caso contrário, o sítio seria um cabaré de cego dentro de um balaio de gato. Liguei para um veterinário fazer uma inseminação artificial. – São cem reais –, avisou o camarada. – Mas o senhor tem que ver o dia exato em que ela entra no cio. Doze horas após, é que a inseminação pode ser feita. Nem antes, nem depois. Se não, ela não emprenha – advertiu o instruído nos negócios de animais.
Ora, eu não moro no sítio, pensei. Como é que vou monitorar o cio de uma novilha? Descartei a segunda opção. Será que a Mel terá que esperar o Gerineldo crescer? No feriado de Páscoa, estive por lá e nada. A chifruda não deu sinal de urgências sexuais. Sabendo que o desejo da danada voltará depois de três semanas, desde que não haja cruza, fiquei preocupado com a solução para a beldade. Abri o jornal hoje cedo e deparei-me com a manchete: “União de fazer inveja”. Em seguida o periódico tricotava: “Milhões de pessoas no mundo todo acompanham o casamento de Kate e William hoje”. Na hora do almoço, uma televisão dentro do shopping se exibia com imagens do casamento dos ingleses. Um monte de desocupados se extasiava ante o aparelho. Fiquei indignado. Se bem que não é coisa das mais raras eu ficar assim. Olhei para um cidadão que aparentava ter seus cinqüenta anos e gritei-lhe em pensamento: “Vai limpar um quintal, morcegão”. Uma moça, que não tinha mais do que vinte anos, era toda devaneios, e eu dei-lhe também um grito mudo: “vai lavar uma louça, menina”. Voto vencido, debandei daquele manicômio metido a lúcido.
Não faz nenhum sentido para mim assistir babacamente o casamento de dois estranhos. Mesmo que esses desconhecidos façam parte da nobreza britânica. Aliás, por serem ligados a corte, causam-me verdadeira repulsa. O que fizeram os ingleses por suas colônias na África e no Oriente? Quando o exército da rainha era expulso de uma colônia, deixava-a destruída. Empobrecida mais do que antes da chegada dele. Por não ser ignorante quanto a esses fatos, cuspi no casamento dos bretões. No momento, o único casamento que me chama a atenção é o da Mel. Essa, sim, merece meu apreço, mesmo que o noivo dela ainda seja indefinido. Kate, William?! Como se diz em Blumenau: “que nojo”.
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