A propósito, paisano: você sabe quem financiou a corte portuguesa quando ela se instalou no Rio de Janeiro, lá pelos idos de 1808? Dom João e sua turma eram uma cambada de perdulários. Quebraram Portugal, deram no pé quando as tropas napoleônicas comandadas pelo fraquíssimo Junot se aproximaram, e navegaram rumo à liberdade da colônia tupiniquim. O Rio, que por incrível que pareça nunca teve um rio singrando suas terras, era um tremendo lixo. Esgotos a céu aberto, mercado infestado de todo e qualquer tipo de insetos, e muita, muita ignorância. Sim, meu caro, os livros e jornais eram proibidos de circularem entre os analfabetos do futuro Reino dos Políticos Desavergonhados. O lençol freático carioca era bem próximo da superfície e, por isso, não se construiam fossas sépticas na cidade. Todas as manhãs, um exército de negros escravos carregava barris de excrementos para jogar na praia. O barril nao era vedado e consequentemente vazava amônia e ureia nas costas dos carregadores. O fétido líquido recolhido dos penicos dos brancos deixava marcas nas costas dos africanos e eles eram apelidados de Tigres. E daí?, você pode estar me perguntando.
Daí que nao terminei, camarada. As casas do Rio, apesar de parecerem bonitinhas para quem atracava na Baía da Guanabara, revelavam-se ordinárias para quem ousava entrar nelas. Onde Dom Jõao, o primeiro monarca europeu a por os pezinhos chulezentos no Novo Continente, iria morar? É aí que surgem os primeiros donos do Brasil. Digo primeiro donos porque essa categoria de nobres senhores se enrraizaria pelo nosso território e espalharia seu tentáculos pelas próximas gerações. Até hoje, seus herdeiros legítimos mandam e desmandam nas terras verde e amarelas. O pançudo Dom João foi morar no Palácio de São Cristóvão. A construção de três andares foi dada como presente por um grande traficante de escravos. Ora, ora, amizade, o tráfico de escravos foi uma das coisas mais repugnantes cometidas pelo ser humano em toda sua história. Calcula-se que, entre os séculos XVIII e XIX, 2.000.000 (dois milhões) de escravos foram arrastados dos seus mundos para o Brasil. Somando-se os que morreram na travessia do atlântico, cujo sofrimento é bem retratado por Castro Alves em “O navio Negreiro” e “Vozes D`África”, o número torna-se um despautério. Você sentiu um nó na garganta quando assistiu algum filme sobre a matança dos judeus pelos nazistas? Então, parceiro, imagine o que sofreram os miseráveis e desalmados africanos. Pois então, os responsáveis diretos pelo tráfico de escravos foram os principais financiadores da Corte de Dom João.
Os tais traficantes, perpetradores da barbárie, tinham passe livre na corte. Eram os senhores mais respeitados da nação. Ai de quem ousasse ofender um desses traficantes. E o que mudou nesses quinhentos e onze anos de pós-descobrimento? Ontem, um repórter da Rádio Bandeirantes perguntou ao senador (com s bem minúsculo) Roberto Requião (PMDB-PR) se ele abriria mão da pensão de ex-governador. Irritado, o político arrancou o gravador da mão do profissional de imprensa e se mandou. Depois, apagou o conteúdo do aparelho e mandou um servo devolvê-lo ao rapaz. Insatisfeito com o crime praticado, e certo da sua impunidade, o caudilho paranaense publicou na internet: “Acabo de ficar com o gravador de um provocador engraçadinho. Numa boa, vou deletá-lo”. O coitado do jornalista tentou registrar queixa na Polícia do Senado, mas o pedido não foi aceito. Os policiais recusaram registrar a ocorrência. Insistente, o repórter foi à Corregedoria da Câmara para encaminhar uma reclamação. Hahaha. O Senado não tem corregedor desde a morte de Romeu Tuma.
Dom João, danado, que semente ruim você plantou nessa terrinha, hem?
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