Derrubaram a Bibigul. Não sei quem foi que fez essa maldade, embora tenha ideia. O leitor contumaz desse blog sabe que Bibigul é uma terneira holandesa que tenho no sítio. Em outras partes do Brasil, ela seria apenas uma bezerrinha. Mas, no interior de Santa Catarina, bezerra é terneira. No Rio Grande do Sul também. O fato é que quando fugi da cidade, sexta à noite, e fui me refugiar entre civilizados, notei que a coitadinha estava com um lado todo sujo de terra. O que não me agrada nem um pouco é que os bichos estão muito parecidos com os humanos. Tudo bem, tudo bem, os quadrúpedes não se matam e nem se engalfinham por razões banais. Mesmo assim, têm, de vez em quando atitudes que lembram, e muito, os filhos de Caim.
Subi a Serra de moto pela BR-282. A estrada está em obras. Estão colocando aquelas finíssimas camadas asfálticas que resistirão até as próximas chuvas. Nos lugares onde não foi feita a sinalização de solo, é terrível para um motoqueiro pilotar depois que escurece. Nas curvas à esquerda, quando os faróis dos veículos que vêm na pista contrária quase cegam o motociclista, o jeito é diminuir a velocidade. Não dá para ver nada. Aí um motorista desmiolado colava o possante dele na traseira da moto. Ou o camarada não sabe dirigir ou quer mesmo me derrubar, pensava eu sob o capacete. O pior é que se o motoqueiro cai e morre, um jornaleco sensacionalista – quase todos os jornais brasileiros se incluem nessa categoria – vai manchetar: “Mais um motoqueiro morre nas estradas”. Como se a culpa fosse sempre de quem está na moto. Livrei-me dos potenciais assassinos e, por volta das 21h estava com a bicharada.
Passada a porteira da propriedade rural, notei, ao direcionar o farol da moto, que a subida até a casa estava interrompida. Pares de olhos tão profundos, como diz o poeta Zé Ramalho,me fitavam. Passei com cuidado por entre eles. Pirata, com seus chifres cada vez maiores, não se deu ao trabalho de tirar os 500 quilos do caminho. Tive que desviar. Aproveite e parei a moto para conversar com eles ao som das águas cristalinas do riacho. Àquelas alturas, minha vista já se acostumara à claridade da lua. Foi aí que percebi o lado esquerdo de Bibigul. Era uma lama só. Não quero julgar ninguém, entretanto já vi Jipão agredindo a órfã outras vezes. Bibigul me acompanhou até a casa e chupou uma laranja. Sério, ela chupa laranja, sim. Aproveitei para ver se estava tudo bem com ela. Estava. Foi só um susto. Jipão, danada, acho que estás indo à cidade, às escondidas, e aprendendo más maneiras.
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