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quinta-feira, 11 de março de 2010

Médicos, pacientes e vítimas

         Todos nós temos direito a saúde. Todos nós temos direito a um atendimento médico de qualidade. E quando digo nós, leitor, refiro-me aos mais de 190 milhões de brasileiros que moram, abrigam-se e se escondem pelos mais diferentes rincões de nossa pátria – amada e idolatrada. Dentro da minha ignorância médica, mas do alto de meu altruísmo não posso emudecer frente ao debate que assisti, ontem , no programa Conversas Cruzadas da TV COM/SC. A discussão girou em torno do Ato Médico – Projeto de Lei que limita aos médicos algumas ações que, hoje em dia, estão sendo feitas, também, por profissionais de áreas afins. Ora, ora, caríssimo, o que os médicos exigem é ter a exclusividade no atendimento ao paciente. Muito bem; se é isso...

         Em 2008 a FGV divulgou uma pesquisa sobre o número de médico no Brasil – um para cada 600 habitantes. Para se ter uma ideia, Cuba tem três para cada 600 castrista. Se é que serve de consolo, a Nigéria apresenta o pior quadro no cenário mundial – um médico para cada 50.000 nigerianos. Entretanto, voltemos ao paraíso do samba. Tem muita gente doente e poucos médicos para atendê-las. Obvio, paisano, que o serviço precisa ser dividido com os enfermeiros, pelo menos. Imagine um cidadão chegando ao pronto socorro, doente e ansiando por cuidados. Espera 30 minutos e nada de ser atendido. De repente um enfermeiro aparece para verificar a situação do moribundo. "Pode voltar; só quem põe a mão em mim é um médico". Ferrou-se.

         Falta médico, criatura divina. Por isso eu fico querendo saber a quem o Ato Médico quer beneficiar. Digo isso porque um projeto como esse, tramitando no congresso com totais possibilidades de ser aprovado, sem sombra de dúvidas trará muito dinheiro para quem quer a sanção dele. E uma pulga mordiscou minha orelha enquanto eu acompanhava o programa de ontem à noite: em determinado momento o presidente da Associação Catarinense de Medicina, Genoir Simoni, sabendo da carência de médicos em certos lugares do país, alertou que os médicos precisam receber melhores salários por parte do governo, aí sim, poderão se deslocar para atender aos pobres conterrâneos. Batata! Eles querem é dinheiro! Tenho uma solução para levar médicos ao povo sofrido das terras tupiniquins.

         O senhor Genoir se esqueceu de dizer quem financiou os estudos da graaaande maioria desses médicos que querem melhores salários. Quem pagou os estudos dos becados foi o estado; com os impostos que arrecada do cigarro, da cachaça, do feijão, da farinha, do açúcar e por aí vai. O médico tem um dever moral e cívico com o país. Todavia, gente boa, não podemos esperar bom senso em quem só enxerga cifrão diante de si. E o que fazer - você me pergunta -? Matamos dois coelhos com uma cajadada só: O governo obriga – isso mesmo, obriga – todo médico formado em universidade pública, a trabalhar os primeiros cinco anos da carreira em lugares determinados pelo Ministério da Saúde. Claro, é uma forma de compensar o estado pela formação que deu ao jovem. Fazendo isso, muitos – filhos de ricos - que não querem se dar à “baixeza” de trabalhar entre os “miseráveis”, vão procurar faculdades particulares para se formar. Ótimo, as vagas que eles ocupariam nas universidades públicas ficarão para os menos privilegiados. Estes sim, acostumados às dificuldades, aceitarão salvar vidas nos recantos descobertos por Cabral.

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