Quando abri a página do Diário Catarinense de hoje deparei-me com a seguinte manchete: Terremoto em Taiwan destrói pelo menos cem escolas no país. Abaixo havia, e há, uma foto que não quer dizer muita coisa. Mas ao lado dela estava, e está, escrito: Embora não haja notícias sobre mortes, danos materiais são grandes no país. Ora, amizade, fui tomado imediatamente por um pavor, eu diria até... um pânico. Depois li a matéria e confesso que fiquei, apenas, aterrorizado. Mentira, fiquei levemente irritado. Aos poucos fui ficando chateado e agora estou calminho, calminho. Como só escrevo quando estou desprovido de ira, neste instante passo a colocar a mão na massa – quero dizer, nas teclas.
Minha exaperaçao inicial foi devido ao apelo que, geralmente, a mídia faz quando acontece uma catástrofe. Veja que a primeira palavra da manchete é terremoto. Ora, depois de acompanharmos a desgraça que se abateu sobre o Haiti, e de vermos os horrores causados pelos sismos no Chile, claro que metemos nosso “olhão” em tudo que lembra um tremor. Foi exatamente isso que fiz. Como a foto do DC era, ao meu ver, inexpressiva, li o texto ao lado da mesma e em seguida acessei a matéria. Como já disse, acalmei-me depois de alguns minutos, até porque entendo que o jornal jamais usaria de sensacionalismo para garantir a atenção do leitor. Mas a expressão embora não haja notícias de morte passa uma idéia de: sinto muito. É como se um terremoto, para merecer notícia, precisasse vir acompanhado de centenas de corpos sem vida estirados pelo chão. Eu disse: é como!
O embora me deixou com um piolho atrás da orelha. É que a palavra traz, em sua polissemia, o sentido de “apesar”. É lógico, saliento, que o Diário Catarinense jamais faria isso, mas que parece um lamento por não ter enchido o leitor de números de mortos... ah, parece. E a matéria reforça esta ideia quando explica: “ Por enquanto não há notícias de mortes causadas pelo terremoto”. É como se o escritor do texto estivesse dizendo: calma, é só por enquanto. Daqui a pouco vão encontrar vítimas fatais e você precisa saber quantas são. E ainda justifica uma leitura quando complementa : "Danos materiais são grandes no país". Soa como se fosse uma espécie de catástrofe em pequena escala, mas que pode satisfazer a sede de desdita que sentimos. Gente do céu, o que eu estou falando é que o texto me remeteu a esta interpretação, mas tenho certeza que o periódico não teve, nem de longe, esse objetivo. Até porque seria se apequenar demais. Seria fazer, da miséria alheia, um macabro espetáculo.
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