Domingo à noite eu, enquanto mudava de um canal para outro, parei para assistir algumas vídeocassetadas. De repente apareceu um vídeo com duas senhoras que tinham, no mínimo, setenta anos cada. Elas estavam na beira da praia, tentando se equilibrar sobre uma espécie de caiaque. Um instrutor segurava a embarcação enquanto as vovós realizavam a proeza. Não deu outra, caíram. O apresentador do programa fez a cena ser repetida e brincou: “As mocréias de Copacabana”. A platéia foi ao delírio. Uma risada coletiva se fez ouvir. Foi então que percebi o descaso, e até o deboche, com nossos idosos. Lembrei-me de uma fábula contada no livro As intermitências da morte, do recém-falecido escritor português José Saramago. Vou tentar escrevê-la.
Em certa aldeia morava uma família. Era um homem, a mulher, o filho e o avô – pai do homem. O piá tinha lá os seus oito anos. O velhinho já passava dos oitenta. Devido ao trabalho árduo que enfrentou na mocidade, o ancião sofria de uma espécie de Parkinson. Na hora de tomar a sopa, era um desconforto só. As mãos trêmulas faziam a colher balançar e derramar quase tudo. Do prato de sopa, uma porção mínima chegava à boca. A maior parte ficava pelo meio do caminho. A nora fez-lhe um babador. O acessório também não dava conta do recado. Era trocado a cada refeição. O casal não escondia a insatisfação. Foi então que tiveram uma ideia.
Trouxeram-lhe uma enorme tigela de madeira na qual o idoso deveria se servir. Amenizaria, assim, o incômodo que causava no lar. O coitado aceitou a imposição resignadamente. Não restara-lhe opção. O neto olhava tudo sem se pronunciar. Um belo dia o pai chegou em casa e viu o guri com uma faca tentando cavacar uma pequena tora de madeira. Perguntou o que ele estava fazendo e a criança respondeu: “Estou fazendo uma tigela para o senhor usar quando ficar velho”. Foi então que caíram as escamas que embaçavam os olhos do casal. Perceberam a vil maneira que estavam tratando o velhinho. O filho pediu desculpas ao pai. Lançou fora a tigela. Na mesa, levava a colher à boca do genitor. Limpava-lhe o que caía na barba. Fazia, carinhosamente, o asseio necessário ao pai.
Eu fico me perguntando: como estamos tratando nossos idosos? Haverá tempo de cuidarmos dos nossos pais enquanto estão neste mundo? Peço-lhe encarecidamente, leitor: não ria de um idoso, não faça ele de palhaço, se não pode dar-lhe a mão, não o espezinhe. Queira Deus que tenhamos tempo de cuidar dos nossos avós.
Em certa aldeia morava uma família. Era um homem, a mulher, o filho e o avô – pai do homem. O piá tinha lá os seus oito anos. O velhinho já passava dos oitenta. Devido ao trabalho árduo que enfrentou na mocidade, o ancião sofria de uma espécie de Parkinson. Na hora de tomar a sopa, era um desconforto só. As mãos trêmulas faziam a colher balançar e derramar quase tudo. Do prato de sopa, uma porção mínima chegava à boca. A maior parte ficava pelo meio do caminho. A nora fez-lhe um babador. O acessório também não dava conta do recado. Era trocado a cada refeição. O casal não escondia a insatisfação. Foi então que tiveram uma ideia.
Trouxeram-lhe uma enorme tigela de madeira na qual o idoso deveria se servir. Amenizaria, assim, o incômodo que causava no lar. O coitado aceitou a imposição resignadamente. Não restara-lhe opção. O neto olhava tudo sem se pronunciar. Um belo dia o pai chegou em casa e viu o guri com uma faca tentando cavacar uma pequena tora de madeira. Perguntou o que ele estava fazendo e a criança respondeu: “Estou fazendo uma tigela para o senhor usar quando ficar velho”. Foi então que caíram as escamas que embaçavam os olhos do casal. Perceberam a vil maneira que estavam tratando o velhinho. O filho pediu desculpas ao pai. Lançou fora a tigela. Na mesa, levava a colher à boca do genitor. Limpava-lhe o que caía na barba. Fazia, carinhosamente, o asseio necessário ao pai.
Eu fico me perguntando: como estamos tratando nossos idosos? Haverá tempo de cuidarmos dos nossos pais enquanto estão neste mundo? Peço-lhe encarecidamente, leitor: não ria de um idoso, não faça ele de palhaço, se não pode dar-lhe a mão, não o espezinhe. Queira Deus que tenhamos tempo de cuidar dos nossos avós.
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