Em uma casa moravam, intrusamente, quatro morcegos. Digo, intrusamente, porque os quirópteros residiam na vivenda de humanos. Exatamente, os alados foram chegando à residência de um casal de idosos e, malandramente, foram ficando, ficando, e ficaram. O quarto onde a parelha de sexagenários dormia, e ainda dorme, vale ressaltar, era forrado com gesso. Os demais cômodos do lar, sem forro, tornaram-se o playground do quarteto indesejado. Creia, paisano, não estou te contando uma fábula. Juro por Deus, é tudo a mais pura verdade. Durante o dia os pequenos mamíferos dormiam dependurados nos caibros da habitação. Mal a noite caía, e os notívagos se punham em um verdadeiro frenesi. Saracoteavam de um lado para o outro, davam rasante sobre a cabeça dos senhores e pareciam zombar deles. Ô cambada de hóspedes folgada! Nem sei se devo chamá-los de hóspedes.
Certo dia um filho do casal veio morar com eles. Quando percebeu que a casa dos pais tinha virado um cabaré de morcegos, ficou indignado. Uma ideia mórbida invadiu o coração do camarada. Armou-se com uma vassoura e deu vazão ao seu extinto justiceiro. A primeira vassourada passou em branco. Os invasores deram uma revoada e voltaram a se alojar no telhado. A segunda vassourada foi letal. Um morcego a menos. Novo bater de asas. Novo pouso nos caibros. Outra vassourada, outro finado. Calmaria na casa. Os despejados sentiram a força da justiça. Nunca mais voltaram. A vassoura voltou a sua função precípua, varrer o chão. O homem me olhou e disse: “O problema é a impunidade. Quando eles viram que dois tinham morrido, desapareceram”. E agora?, pensei. Será que o cidadão tinha razão? Refleti sobre os diversos crimes que fazem meu país desfalecer moral e economicamente. É, talvez o justiçoso tivesse mesmo razão. Acho que vou comprar uma vassoura.
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