Ontem à noite, eu estava na década de 1970. Calma, calma, a frase tem nexo, sim. Sem querer pedir demais: leia-a de novo, por favor. Please, please. Leia, mais uma vez, a frase inicial e feche os olhos. Não, não é nenhuma magia. Ou... que seja. Não sou, juro por tudo que tens de importante, mágico. Ô, simpatia, você não deveria estar de olhos fechados neste momento? Sei, sei, a pressa te fez pular o “feche os olhos”. Tudo bem, a graaaaaaaaaaande maioria das pessoas vive em alta velocidade. O cara já acorda com o infernal barulho do despertador. Antes de alongar o corpo, como ensinam os gatos, os cachorros ou qualquer outro animal, o cidadão pula da cama e corre para o banheiro. Uma chuveirada de um minuto – para os mais asseados –, um chacoalhar de escova dentro da boca e uma visita ao vaso sanitário. Não necessariamente nessa ordem, diga-se de passagem. Hora de se vestir: “Oh, meu Deus, qual a blusa que devo usar para combinar com a saia”, apavora-se a rainha do lar. O celular grita outra vez; “Tô saindo de casa agora”, informa entre uma respirada e outra. Um cafezinho, um cafezinho. O camarada com maior tendência ao suicídio sai sem botar nada no estômago. Pam, pam, pam. “Tira essa tartaruga da frente, ô, barbeiro. Não vê que tô com pressa, idiota”. Pior para quem não tem carro e precisa se espremer entre desconhecidos do buzão. “Esse desgraçado desse motorista não percebeu que não cabe mais ninguém?”, resmunga.
Agora, seja sincero, paisano, você acha que uma pessoa num ritmo desses é capaz de fechar os olhos diante de uma frase que leu no blog do Gile? É preciso, saliento, fechar os olhos para enxergar certas belezas. É preciso, reafirmo, com os olhos cerrados, respirar fundo. Só então, coisas como a frase “Ontem à noite, eu estava na década de 1970” vão fazer sentido. Amanhã, direi o que eu estava fazendo ontem à noite na década de 1970. Enquanto isso, respire, respire, respire. Agora respire fundo, o mais fundo que puder. Puxe o ar pelo nariz e solte-o pela boca. Feche os olhos. Se você fechou os olhos, pode ler o post de amanhã. Se não, volte à primeira linha desta crônica. E não seja mal-educado. Nada de xingamento. Ontem à noite, eu estava na década de 1970.
Acabei de saber que sou um suicida em potencial. rsrsrs
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